Brasil vive o pesadelo da economia estagnada com inflação alta

O PIB entre janeiro e março deste ano não chegou perto do que se esperava – alta de 0,6%, segundo o IBGE (expectativa era de 0,8% a 1%). A primeira esperança a cair por terra é de um crescimento de 3% em 2013. A primeira constatação é de que o Brasil está vivendo hoje um pesadelo quase esquecido: baixo crescimento com inflação alta, ou seja, uma estagflação.

Esse quadro atual é consequência de uma grande distorção entre a demanda e a oferta na economia. Tudo que está associado à demanda vem sob pressão há bastante tempo: emprego, renda, consumo, serviços. Tudo que está associado à oferta está com pouquíssimo oxigênio: produtividade, investimento, competitividade.

O PIB brasileiro é, a grosso modo, dividido assim: 70% de peso para consumo e serviços e 30% para indústria e investimento. Enquanto a dinâmica entre um e outro não se reequilibrar, vai ser difícil recolocar a economia do país numa rota mais saudável de crescimento.

Vamos a uma meia-boa-notícia: essa dinâmica pode estar começando a mudar. O investimento cresceu no primeiro trimestre a uma taxa de 4,6%, o que não acontecia há tempos. A indústria, apesar de ter vindo ainda com resultado negativo (queda de 0,3%), está em trajetória de recuperação. Do outro lado, consumo e serviços pisaram no freio, ainda que ainda estejam em alta, e perderam velocidade – o consumo das famílias teve o pior trimestre desde  2011.

A noticia muito-ruim revelada pelo IBGE é que, mesmo que o país se esforce para acertar o prumo, será quase inevitável aceitar menos crescimento por algum tempo. O governo precisa escolher qual desequilíbrio vai combater já. Não dá mais para manter dois objetivos: crescer (a qualquer custo) e combater a inflação. A inflação é o maior custo para o crescimento. O tempo para tentativa e erro está se esgotando.

O incentivo à oferta passou a ser parte da estratégia do governo desde meados de 2012. Mas ele veio associado a uma onda de baixa confiança dos investidores na condução dos processos e na execução das tarefas necessárias para melhorar a infraestrutura do país.

A estagflação, monstro que não assombrava o país desde a década de 80, é resultado de um longo período de estímulo à demanda, que começou em 2009, ainda no governo Lula.

O primeiro teste do governo está nas mãos do Banco Central. Nesta quarta-feira (29) o Copom vai decidir o que fazer com a taxa de juros. Racionalmente um aumento de 0,25% na Selic pode ser justificável se o BC realmente acredita (e enxerga) que essa possível mudança na dinâmica entre consumo e produção vai se concretizar. Isso, em tese, seria fator de menor pressão inflacionária no médio prazo.

Emocionalmente, o resultado do PIB gera frustração e pode provocar no governo uma vontade louca de ser contundente e implacável com as pedras no caminho. Talvez seja hora de fazer exatamente o contrário e, de preferência, com um diálogo transparente e convincente. A confiança de que a escolha certa será feita deveria ser o efeito mais desejado em Brasília.

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