Coronel da ditadura é assassinado

O ex-coronel do Exército Paulo Malhães foi encontrado morto na manhã desta sexta-feira dentro de sua casa, num sítio do bairro Marapicu, zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O militar da reserva teve atuação de destaque na repressão política durante a ditadura militar. No mês passado, em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, ele assumiu ter participado de torturas, mortes e desaparecimentos de presos políticos – entre eles o ex-deputado Rubens Paiva.

O quarto onde Malhães foi assassinado
O quarto onde Malhães foi assassinado Foto: Luiz Roberto Lima / Extra 

Segundo investigadores da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, que acabam de realizar uma perícia no local, três homens invadiram a residência de Paulo Malhães na tarde desta quinta-feira. Ele ficou em poder dos bandidos de 13h às 22h, segundo o relato de testemunhas, entre elas a viúva do ex-coronel, Cristina Batista Malhães:

– Eu fiquei amarrada e trancada no quarto, enquanto os bandidos reviravam a casa toda em busca de armas e munição. Não era segredo que ele era colecionador de armas – disse Cristina, enquanto era conduzida para a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) para prestar depoimento.

O corpo do ex-militar é retirado do sítio
O corpo do ex-militar é retirado do sítio Foto: Luiz Roberto Lima / Extra 

O caseiro também foi conduzido para a delegacia. Ele também ficou trancado em outro cômodo da casa, amarrado.

Segundo o delegado Fábio Salvadoretti, da DHBF, não havia marcas de tiros no corpo de Paulo Malhães, apenas sinais de asfixia.

– A princípio, ele foi morto por asfixia. O corpo estava deitado no chão do quarto, de bruços, com o rosto prensado a um travesseiro. Ao que tudo indica ele foi morto com a obstrução das vias aéreas.

A perícia foi feita no local. Policiais apreenderam na casa um rifle e uma garrucha antigas e colheram impressões digitais, que serão analisadas.

Revelações sobre torturas

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), há exatamente um mês, Malhães confessou ter se envolvido em torturas, mortes e ocultação de corpo de vítimas da ditadura. Foi a primeira vez que o coronel confessou, em público, que fez parte da equipe que operou, nos anos 1970, a Casa da Morte, que funcionava em Petrópolis, na Região Serrana do Rio.

Em seus relatos, Malhães detalhou como a repressão fazia para impedir a identificação daqueles que eram mortos. De acordo com o coronel reformado, os dentes da pessoa eram quebrados e os dedos, cortados. Assim, não erá possível fazer a identificação pela arcada dentária e as digitais, já que na época não havia exame de DNA.

O militar admitiu ainda, em seu depoimento, ter recebido uma ordem de seu comando para ocultar o corpo do ex-deputado Rubens Paiva. Mas Malhães alegou que a operação foi executada por outro oficial do Centro de Informações do Exército (CIE).

— Eu deveria ter feito, sim, mas tive outra missão. Eu disse (à imprensa) que foi eu porque acho uma história muito triste quando uma família leva 38 anos para saber o paradeiro de uma pessoa. Não estou sendo sentimental, não — declarou à época. Por: Jornal Extra)

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