Crise de abastecimento continuará no DF nesta sexta-feira

O acordo que o governo federal anunciou com os caminhoneiros na noite de quinta-feira (24/5) não significa o fim da crise. A sexta-feira (25) promete ser caótica no Distrito Federal, com falta de combustível e de mercadorias nas prateleiras dos supermercados e feiras – o que elevou o preço dos produtos, principalmente batatas e hortaliças. Até as aulas na rede pública e em algumas escolas e faculdades privadas foram suspensas.

A Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), entidade que reúne entre 600 mil e 700 mil trabalhadores, não entrou em consenso quanto à proposta do Planalto e, até o fim da noite, manifestantes bloqueavam o acesso à distribuidora da Petrobras no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), de onde sai o combustível que abastece a capital.

Além de caminhoneiros, havia outras categorias profissionais, como motoristas de vans escolares, de aplicativos de transportes e motoboys. Como o grupo que protesta em frente à distribuidora está bastante heterogêneo e exige a redução no preço da gasolina, além do diesel, eles não aceitaram o acordo e mantiveram os caminhões carregados proibidos de deixarem a distribuidora.

Nós não vamos sair, pelo contrário. Além de continuarmos, está chegando mais gente. Nenhum caminhão sai daqui e nos organizamos para sempre ter um grupo durante a madrugada

André Fernandez, um dos líderes do protesto

Outra liderança dos caminhoneiros, Wallace Landim, divulgou vídeo no qual reforça a manutenção do bloqueio.

O presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, informou que os representantes dos caminhoneiros tiveram de levar as propostas para a categoria e espera a aceitação. O presidente, no entanto, hesitou em dar um prazo para a desmobilização, alegando ser um processo difícil e que deve ser feito com segurança.

Normalizar tudo vai demorar
Mesmo que o grupo decida liberar a entrada da distribuidora da Petrobras, a situação nos postos levará ao menos 24 horas para começar a normalizar, conforme disse ao Metrópoles a presidente do sindicato que representa as empresas do setor (Sindicombustíveis), Elisa Schmitt Monteiro.

Para o presidente da Federação de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomercio), Adelmir Santana, mais segmentos serão atingidos caso a greve permaneça. “Os estoques nos pontos de vendas do varejo em todos os setores são muito baixos. A reposição hoje é feita com rapidez, e as empresas varejistas trabalham com os estoques existentes nos centros de distribuição dos atacadistas. É um processo em cadeia, daí o impacto da greve ora em curso”, ressalta Santana.

Transporte público
Com a maioria dos postos fechados por falta de estoque, a única alternativa dos motoristas continua sendo enfrentar filas intermináveis nos poucos locais onde ainda é possível encontrar os combustíveis. Às 17h de quinta-feira (24), 60% dos postos não tinham mais combustível em estoque e precisaram fechar. À 0h desta sexta (25), as filas ainda eram quilométricas nos estabelecimentos que permaneciam abertos.

Quem depende do transporte público também vai enfrentar dificuldades, pois duas empresas anunciaram a redução da frota em circulação devido à escassez de óleo diesel. No total, 11 Regiões Administrativas devem ser afetadas.

Prevendo o aumento da demanda nesta sexta (25), o GDF estendeu o horário de pico do Metrô, que passa a funcionar em capacidade máxima das 6h às 9h45 pela manhã e das 16h45 às 20h45 à tarde.

No Aeroporto Internacional de Brasília, a situação continua preocupante. Sem o estoque necessário de querosene de aviação (QAV), a Inframerica — empresa que administra o terminal — mantém o racionamento do combustível e apenas aeronaves com o QAV necessário para seguir viagem são autorizadas a pousar.

Sob escolta policial, o aeroporto recebeu um caminhão-tanque com 60 mil litros de querosene. A quantidade, no entanto, garante abastecimento apenas até a manhã desta sexta (25). Diariamente, o terminal recebe uma média de 20 veículos com combustível. Portanto, a recomendação de procurar as companhias aéreas emitida pela administradora e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) está mantida.

Produtos e serviços
Serviços essenciais também foram afetados. A Companhia Energética de Brasília (CEB) comunicou que a empresa irá priorizar os chamados de emergência, pois “as viaturas estão com dificuldade de locomoção e abastecimento”, destacou a estatal.

As forças de segurança e serviços móveis de primeiros socorros também foram afetados. Na noite de quinta-feira (24), os manifestantes autorizaram a saída de dois caminhões-tanque, cada um carregado com 23 mil litros de combustível, para abastecer viaturas das polícias Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros e Samu. Os veículos possuem dois compartimentos; dois deles estavam preenchidos com gasolina e os outros, com diesel e etanol.

Por meio de nota, o GDF informou ter priorizado o abastecimento de combustível dos veículos que prestam serviços essenciais à população, como Segurança, Saúde e SLU, e emergenciais, como Caesb e CEB.

A distribuição de botijões de gás de cozinha não escapou ao caos instaurado pela paralisação de caminhoneiros. Um comunicado divulgado pela Vip Gás, responsável pelo abastecimento da capital, a empresa está enfrentando problemas no fornecimento da mercadoria e busca alternativas para restabelecer o atendimento.

Pelo temor de que a população comece a estocar alimentos e os produtos sumam das prateleiras, a rede Carrefour colocou um informe na porta das lojas limitando a compra de até cinco unidades do mesmo produto para cada cliente. A rede esclareceu se tratar de uma medida preventiva.

Algumas mercadorias, porém, já começam a faltar nos supermercados, como determinados cortes de carnes. “Entretanto, não se pode dizer que esse setor está desabastecido, ainda há estoque para mais alguns dias, desde que não haja uma correria em busca de estocagem de alimentos por parte dos consumidores”, informa a Asbra, associação que representa o setor.

O protesto que prejudica o abastecimento de mercados também provoca o aumento do preço de produtos nas feiras, como batata e tomate. Na manhã de quinta (24), consumidores que foram à Central de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF) depararam-se com o preço da caixa com 20kg de tomate a R$ 130. Antes, o valor era R$ 60. Já o saco da batata inglesa com 50kg, vendido por R$ 100 na terça (22), passou para R$ 160 na quinta.

Aulas suspensas
Por causa da greve, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) determinou a suspensão das aulas nas escolas públicas nesta sexta (25). Além da rede pública de ensino, instituições particulares também suspenderam as atividades.

Nessa quinta-feira (24), as atividades foram interrompidas no Centro Universitário Iesb e na Universidade Católica de Brasília (UCB). O Colégio Militar Dom Pedro II e o Projeção dispensaram os alunos nesta sexta (25).

Em comunicado enviado aos estudantes, a UCB explicou ter tomado a medida “em virtude dos transtornos causados pela paralisação nacional” da categoria. A instituição esclareceu que as aulas devem voltar ao normal apenas quando os bloqueios nas rodovias forem suspensos e não haja mais risco para o deslocamento de alunos, professores e outros funcionários.

fonte:

Metrópoles

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