Goiana faz empréstimo para salvar árvore plantada pelo pai

A professora aposentada Alma Ione Marinori, de 75 anos, fez um empréstimo de R$ 10 mil para poder salvar uma árvore de 50 anos que estava plantada no quintal da casa onde a família dela viveu, em Goianira, Região Metropolitana de Goiânia. Ela teve de contratar uma empresa especializada para retirar a paineira – conhecida também como barriguda – sem que a planta, de 15 metros de altura e 30 toneladas, sofresse qualquer dano e pudesse ser replantada em outro lugar. O atual dono da residência tinha interesse em derrubar a árvore.

Nascida em Gênova, Alma se mudou para o Brasil com os pais no fim da década de 1950. Primeiro, viveu em São Paulo e em 1964, foi para Goianira. Neste ano, começou a história de amor da família com a árvore. “Um funcionário da nossa família pegou algumas sementes e deu para o meu pai plantar. Ela começou a crescer e ficou desse jeito”, conta ela, segurando uma foto do ano 2000, quando a planta estava bastante florida.

Com as mortes dos pais, ela se mudou da casa e, após sucessivos problemas com inquilinos, decidiu vender o imóvel. No entanto, o novo comprador tinha de atender a uma única exigência: não cortar a paineira.

Retirada

Sem consenso, a aposentada resolveu agir por conta própria no intuito de salvar a barriguda. Foi a um banco e contraiu um empréstimo a ser pago em 20 vezes. “O valor era R$ 10,5 mil, mas eu só tinha os R$ 500”, brinca.

                                  Operação de retirada precisou de carreta, retroescavadeira e até guindaste (Foto: Arquivo pessoal)

Na última sexta-feira (31), com o trabalho de vários homens, carretas, retroescavadeira e até um guindaste, a árvore foi içada e levada para um uma região afastada da cidade e replantada onde a prefeitura pretende fazer um bosque. O tronco, já podado, pesava cerca de 30 toneladas.

O trabalho foi acompanhado de perto pela secretária municipal de Meio Ambiente, a bióloga e ambientalista Nilda Jacinto da Silva. Segundo ela, o processo de transporte de árvores deste tamanho já foi realizado em outros estados e o resultado foi satisfatório.

“Temos que tentar. Vimos que há água no solo e estamos utilizando apenas adubo orgânico. Se tudo der certo, nos próximos seis meses, os primeiros brotos devem surgir. Mas vamos monitora-la por pelo menos um ano. Tenho fé de que vai dar tudo certo”, afirma Nilda.

Cães e livros
Divorciada, Alma tem um filha de 35 anos formada em análise de sistemas e que mora em Milão. Atualmente, a aposentada ocupa seu tempo com os 30 cães que pegou na rua para criar. Depois que vendeu a casa da família, ela comprou uma chácara próximo à cidade, onde mantém os animais. Lá, revela, existem mais quatro árvores que nasceram de sementes oriundas da paineira que ficava em sua casa.

A aposentada também escreve livros. Ao todo, ela já publicou 40. “Gosto de falar de fantasia, mas sempre com algum aspecto da realidade”, conta. Em um imóvel na cidade, junto com um sócio, tem uma loja que vende produtos para animais. “Ela me rende apenas os 150 kg de ração que gasto por mês com meus cachorros”, calcula.

Quando questionada por que foi capaz de tanto esforço para salvar uma árvore, ela simplesmente responde: “Quando a gente gosta, gosta”. Alma diz que todos os dias visita a árvore. Esperançosa, ela acredita que ainda verá a árvore que marcou sua infância florescer novamente. No dia em que isso acontecer, ela já sabe como comemorar. “Vou chamar os amigos e beber champagne”, espera.

                                 Aposentada torce para que árvore reimplantada volte a florir como antigamente (Foto: Sílvio Túlio/G1)