Invasão e ameaças expõem insegurança no hospital de Santa Maria

Em um intervalo de duas semanas, dois casos de invasão à ala de observação feminina do Hospital de Santa Maria (HRSM) causaram medo e constrangimento a pacientes e funcionários. Ambas as situações envolveram pacientes com algum transtorno mental, vulneráveis à falta de vigilância e local adequado às suas necessidades.

O primeiro caso aconteceu na terça-feira da semana passada, quando um homem de aproximadamente 50 anos invadiu a ala feminina e ficou nu. De fralda, ele sujou o corredor e a ele mesmo com as próprias fezes. Uma idosa de 75 anos, que passaria por cirurgia, se assustou com a cena e passou mal.

“Ele estava com a fralda suja de fezes e a tirou no corredor perto da gente, com cheiro muito ruim. Eu estava bem próxima a ele e corri voltando para a minha maca”, conta a paciente Cassia da Silva, 37.

De acordo com a Secretaria de Saúde, o homem chegou ao hospital depois de ser atendido pelo Corpo de Bombeiros por estar “desorientado e vagando pela rua”. Depois do incidente, foi medicado e levado ao Centro de Atenção Psicossocial (Caps), na quinta-feira.

“Ele foi alojado em um leito que fica em área separada do hospital, mas aproveitou que estava sem acompanhante e se dirigiu para o banheiro em uma ala em que se encontravam outros pacientes. Lá, se sujou com a próprias fezes e tirou a roupa. Na ocasião, os profissionais de saúde tentaram contê-lo e vesti- lo novamente. Ele recebeu todos os cuidados e está agora no Caps de Samambaia”, atesta a pasta.

“Voltaria armado”

No domingo passado, um paciente de 30 anos também invadiu a ala feminina e fez ameaças a funcionários e pacientes. Um senhor teve de ser levado para emergência por queda da pressão.

“Por volta das 13h ele gritava bem exaltado, e um senhor de idade pediu para ele falar mais baixo. Aí ele o mandou calar a boca, porque ‘senão voltaria armado para dar um tiro nele’. Às 17h30, a pressão do idoso voltou ao normal, mas ele não quis voltar à ala masculina com medo de o rapaz cumprir a ameaça”, conta um médico.

A confusão não parou por aí. Segundo o servidor, o agressor tentou bater em um funcionário com um suporte de soro. “Do lado de fora, em frente à entrada principal, os policiais pediram para ele suspender a blusa para conferir se estava armado. Então, ele fez foi abaixar a calça com cueca e tudo, na frente das pessoas”, complementa.

Segundo a Secretaria de Saúde , o homem passa por tratamento psiquiátrico. “Ele se aproveitou de socorro prestado pelo Samu para retornar à unidade, quando entrou na área de internação para mulheres. O paciente foi imobilizado por um dos vigilantes e conduzido à delegacia da cidade”, diz a nota.

Assédio e queixa policial

O homem que ameaçou um idoso fez o mesmo com funcionários e assediou a jovem Eduarda Souza, de 19 anos. Ela é diabética e foi internada por apresentar taxa de glicemia alta. “Eu estava dormindo. Quando acordei, ele estava bem próximo a mim e me assustei. Ele dizia que eu sou tão bonita dormindo, aí passou a mão no meu ombro, me assediando”, detalha. Após o ocorrido, ela confessa que não se sente segura ao dormir: “Eu fico com medo. Sempre acordava com medo de ele aparecer”.

A 33ª DP (Santa Maria) recebeu a ocorrência no domingo, registrada por uma funcionária. “É muito subjetivo alegar agressão neste caso, podem ter sido apenas discussões. O único crime provável é pertubação do sossego alheio, de menor potencial ofensivo”, esclarece o delegado Rodrigo Telho.

Em nota, a SES-DF informou que o Hospital de Santa Maria conta com 104 vigilantes, que utilizam como equipamento um cassetete, diferentemente dos profissionais que ficam em pontos estratégicos do hospital, que têm porte de arma. Um supervisor do HRSM acrescentou que, “em casos de agressão, interferimos acionando a PM. Quando há má conduta, a responsabilidade é da equipe médica”.

Ponto de vista

O psiquiatra Roney Braga Barata ressalta que um paciente com transtornos mentais tem o mesmo direito de ser internado em um hospital que não seja específico para essas patologias. Segundo Braga, cabe ao médico plantonista controlar essas situações. “É indispensável preparação para intervir em casos como esses”, diz o profissional do Aliança Instituto de Oncologia. Há como evitar que se chegue a situação de surto porque, na maioria das vezes, esses pacientes demonstram agitação, inquietação e nervosismo antes. “Quando o responsável pelo paciente perceber esses comportamentos, ele pode atuar acalmando-o ou até aplicando algum sedativo para evitar certos constrangimentos”, concluiu. (Colaborou Tainá Morais)

fonte:

Jornal de Brasilia

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