Transporte público: um novo problema atrás do outro

Paralisação da Viação Pioneira se soma à pane no sistema de cartões e ao rombo deixado por desvio

Nesta sexta-feira (7), a paralisação das atividades dos rodoviários da empresa Pioneira continua. De acordo com o Sindicato dos Rodoviários, não há previsão para a volta das coletivos às ruas, pois os funcionários só irão retomar seus serviços quando o salário e o ticket alimentação forem depositados.

Essa não foi a única vez em que a categoria deixou de comunicar o ato com antecedência, conforme prevê a legislação. A situação tem se repetido, cada vez com uma empresa diferente.

Os 640 ônibus que  não saíram da garagem prejudicaram mais de 200 mil passageiros. Os funcionários alegam não receber o pagamento do salário e do auxílio-alimentação do mês passado, que deveria   ter sido depositado  pelo DFTrans até a última quarta-feira. Cerca de 1,5 mil funcionários pararam as atividades.

A greve atinge Santa Maria, Gama, São Sebastião, Itapoã, Paranoá, Lago Sul, Jardim Botânico, Candangolândia e Park Way. A dívida do governo, que chega a R$ 15 milhões, é referente ao repasse do passe livre, da passagem de  pessoas com deficiência  e da “operação branca”, devido à gratuidade do Expresso DF. O DFTrans admitiu o atraso e informou que solicitou   reforço de outras empresas e cooperativas que atuam nestas regiões.

Segundo o diretor do Sindicato dos Rodoviários, Oswaldo Lima, é frequente a falta de pagamento. “O último atraso foi no dia 20 do mês passado”, destaca. Segundo ele, é indispensável paralisar para   chamar a atenção do governo. “Nós podemos voltar a circular a qualquer momento, mas mediante o depósito”, acrescenta.

A Viação Pioneira esclarece que o montante do repasse é referente às folhas de ponto dos funcionários e a outras despesas da empresa. “Investimos na compra de novos ônibus, mais confortáveis, para garantir qualidade à população. Infelizmente, é complicado continuar os trajetos sem o salário pago”, ressaltou a assessoria de imprensa da empresa.

Repasses

Em nota, o DFTrans explicou que tem feito repasses diários às empresas para suavizar o impacto provocado pela dívida de R$ 15 milhões. A autarquia  argumentou também que, “independentemente dos valores a serem repassados pelo governo, as empresas devem ter caixa para manter sua operação”. Segundo o órgão, das cinco empresas que operam no serviço, somente a Pioneira não está circulando.

Desvio de R$ 30 milhões na bilhetagem
O DFTrans  é pivô de  outra crise, provocada pelos indícios de desvio de dinheiro do sistema de bilhetagem automática. Auditoria da Controladoria  do GDF apontou um rombo de R$ 30 milhões. As irregularidades começaram em 2008  e envolvem empresas fantasmas e concessionárias do transporte público, além do próprio DFTrans.
Conforme detalha a investigação, o esquema funcionava assim: as empresas fantasmas fechavam contrato com o DFTrans, mas não pagavam o valor dos vales-transporte dos supostos funcionários. Mesmo assim, o governo liberava os créditos. Havia  cartões usados  milhares de vezes em um único dia. Depois, o DFTrans repassava o valor supostamente arrecadado às concessionárias. O dinheiro, então,   era dividido entre os envolvidos. Dois funcionários comissionados foram afastados.
O diretor-geral do DFTrans, Jair Tedeschi, reconhece que a denúncia é grave e diz  que a Polícia Civil também investiga o caso. “Não há novidade. Isso já foi noticiado na época. Vamos aguardar o desfecho”, resumiu. Quanto à pane no sistema da bilhetagem, ressaltou que as recargas deverão ser normalizadas nesta segunda-feira.
Via-crúcis dos passageiros
Com a paralisação da Viação Pioneira, as paradas de ônibus ficaram lotadas e muitas pessoas não conseguiram chegar pontualmente ao trabalho durante o dia de ontem. O bombeiro hidráulico Ribamar Melo, 43, saiu de casa, em Santa Maria, bem cedo, às 5h, mas só conseguiu chegar ao trabalho cinco horas depois, por volta das 10h. “Espero que os ônibus voltem a circular logo para ajudar a gente. Não dá para continuar assim”, lamenta.
A greve pegou o servidor público Hélio Martins, 56, de surpresa. “Eu estava no Sítio do Gama (na região de Santa Maria) tentando ir à Rodoviária do Plano Piloto. Não passava nenhum ônibus. Tive que caminhar até a BR-040 para pegar o primeiro que passasse”, relata.
A auxiliar de dentista Edneia Evangelista, 47, também moradora de Santa Maria, foi obrigada a acordar mais cedo ontem. “Eu estava na parada de ônibus desde as 4h. Só consegui sair de lá às 5h30, porque peguei carona com um amigo”, conta. “A gente sai de casa sem ter hora para voltar. É um desrespeito. Quem paga as consequências é a população”, reclama.
A doméstica Conceição de Lima, 55, também enfrentou transtornos. “Desde cedo,  os expressos e piratas estavam cheios. É lamentável o descaso”, disse.
Piratas
Muitos trabalhadores tiveram que se arriscar nas vans, ônibus e transportes escolares piratas. Por volta das 17h de ontem, as filas com destino a Santa Maria e ao Gama, da empresa Cootarde, já davam voltas na rodoviária.
Os comerciantes também foram prejudicados. Izaildo da Silva, 35, vendedor de uma banca da rodoviária, não teve lucro. “O movimento das vendas está muito fraco hoje (ontem)”, afirmou.
Memória
A última greve de rodoviários foi da São José e aconteceu no dia 6 de outubro, complicando o deslocamento de cem mil passageiros de Taguatinga, Ceilândia e Brazlândia.
Cerca de 540 veículos suspenderam a circulação. Os trabalhadores reivindicavam o pagamento de horas extras e solicitava o parcelamento do desconto do Imposto de Renda, INSS e taxa sindical.

(Fonte: Jornal de Brasília/Bárbara Fragoso e Ary Filgueira)edição de André Silva

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