Separatistas pró-Rússia e Ucrânia pretendem trocar prisioneiros
Os separatistas pró-Rússia do leste da Ucrânia se preparavam neste sábado para trocar prisioneiros com o exército ucraniano, no dia em que Kiev anunciou a morte de 179 soldados em um mês de combates na cidade estratégica de Debaltseve.
Neste contexto, Estados Unidos e Reino Unido avaliam sanções adicionais contra a Rússia, acusada de apoiar os separatistas, afirmou o secretário de Estado americano, John Kerry.
“Hoje (sábado) acontecerá um intercâmbio com os ucranianos”, afirmou a secretária para os Direitos Humanos dos separatistas, Daria Morozova.
A troca acontecerá como parte dos acordos, violados, de cessar-fogo de Minsk, a última esperança ocidental de acabar com o conflito.
Quase 40 prisioneiros dos dois lados, incluindo alguns feridos, serão liberados e trocados no reduto rebelde de Lugansk, segundo Morozova.
Vários jornalistas viajaram no comboio que transportava os prisioneiros sob poder dos separatistas em Donetsk, outro bastião rebelde, e até Lugansk. Os soldados estavam de barba e aspecto cansado.
As autoridades ucranianas não confirmaram a troca de prisioneiros, mas algumas já aconteceram em pequena escala nas últimas semanas, com muita discrição.
Se a operação for bem sucedida neste sábado, o intercâmbio de prisioneiros será um raro caso de respeito da trégua assinada na semana passada em Minsk, mas que foi violada diversas vezes desde que entrou em vigor, no dia 15 de fevereiro.
Os acordos assinados na capital de Belarus, com a participação de Ucrânia, Rússia, Alemanha e França, previam um cessar-fogo total, a retirada das armas pesadas da frente de batalha, a libertação de prisioneiros e negociações para mais autonomia das regiões separatistas.
A maior violação do que foi assinado em Minsk aconteceu na cidade estratégica de Debaltseve, que os separatistas tomaram em pleno cessar-fogo.
A ofensiva provocou a fuga de 2.500 soldados ucranianos sob fogo inimigo.
Um total de 179 soldados ucranianos morreram em um mês na batalha de Debaltseve, leste da Ucrânia, e 81 permanecem desaparecidos, anunciou Yuri Biriukov, conselheiro do presidente ucraniano, Petro Poroshenko.
Os rebeldes eram de cinco a sete vezes mais numerosos que os soldados ucranianos, de acordo com Biriukov.
O conflito no país provocou quase 5.700 mortes em 10 meses, segundo os números da ONU.
Acordos ignorados em grande parte
Kiev e os rebeldes trocam acusações sobre o uso de artilharia contra as posições inimigas. As autoridades ucranianas seguem denunciando a intervenção russa no leste do país.
Comandantes do exército ucraniano acusaram Moscou de enviar 20 tanques para a região ao redor da cidade portuária de Mariupol.
Os separatistas afirmam que retiraram as armas pesadas de algumas zonas, mas os observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) ainda não confirmaram a informação.
Em Londres, onde se reuniu com o chefe da diplomacia britânica, Philip Hammond, Kerry criticou o comportamento “extremamente covarde” da Rússia na Ucrânia.
“Estamos considerando sanções adicionais, esforços adicionais”, disse Kerry aos jornalistas, acrescentando que os dois países não vão ficar de braços cruzados diante de um comportamento que também arrasta a “soberania e integridade de uma nação”.
Apesar de Moscou negar uma intervenção na Ucrânia, a UE e os Estados Unidos adotaram uma série de sanções econômicas em represália pelo apoio russo aos separatistas.
As medidas abalaram ainda mais a já combalida economia russa, afetada pela queda do preço do petróleo.
A agência de classificação financeira Moody’s rebaixou na sexta-feira a nota da dívida russa para a categoria de grau especulativo. (AFP)