Indiano que estuprou jovem em 2012 diz que mulher não deve reagir
Mukesh Singh, um dos homens condenados por estuprar e matar a estudante de medicina Jyoti Pandey em um brutal ataque em 2012, dentro de um ônibus em Nova Délhi, disse em um documentário de TV que, se a vítima não tivesse reagido, não teria sido assassinada.
Em vez disso, a mulher de 23 anos deveria ter permanecido em silêncio, disse Singh, que estava dirigindo o ônibus durante grande parte do tempo em que a mulher estava sendo atacada.
“Uma menina é muito mais responsável pelo estupro do que um menino”, disse ele, de acordo com a transcrição do documentário. “Uma menina decente não vai andar por aí às 9 horas da noite. O trabalho doméstico é para meninas e não passear em discotecas e bares durante a noite fazendo coisas erradas, vestindo roupas erradas.”
Jyoti Pandey e seu amigo estavam voltando para casa, após terem ido ao cinema, quando foram enganados pelos homens para entrar no ônibus, que eles tinham roubado para se divertirem. Eles espancaram o amigo e estupraram a mulher com uma haste, deixando-a com ferimentos internos graves, os quais causaram sua morte.
Singh e outros três homens foram condenados por assassinato e estupro por um tribunal em 2013. Na época, eles confessaram o ataque, mas depois retrataram suas confissões, dizendo que tinham sido torturados para admitir o envolvimento. Os recursos às sentenças de morte contra os quatro estão suspensos, aguardando a decisão da Suprema Corte.
Na Índia, onde muitas pessoas acreditam que as mulheres são responsáveis pelos seus estupros, a maioria ficou em choque após o ataque. O governo se apressou para dobrar a pena que incrimina os estupradores para 20 anos de prisão, além da criminalização do voyeurismo, no qual o indivÍduo obtém prazer sexual ao observar uma mulher, à perseguição e ao tráfico de mulheres. A lei também criminaliza policiais que se recusarem a abrir investigações em casos de abusos contra mulheres.
Na época, Nova Délhi foi tomada por um grande protesto pedindo fortes punições contra os estupradores. Em outras partes da cidade, universitários montaram barricadas para protestarem contra as autoridades.
Na entrevista, Singh sugeriu que o ataque era ensinar a mulher e seu amigo que eles não deveriam estar na rua durante a noite e reiterou ainda que as vítimas não devem reagir, mas “devem ficar em silêncio e permitir o estupro”.
Em relação à pena de morte, Singh disse que a medida irá apenas tornar o crime mais perigoso, pois ao invés de abandonarem a mulher, elas serão mortas.
A entrevista de Singh está no documentário a “Filha da Índia”, realizado pelo cineasta britânico Leslee Udwin. Ele será exibido em 8 de março, no Dia Internacional da Mulher, na Índia, Grã-Bretanha, Dinamarca, Suécia e em vários outros países.
(Fonte: Estadao Conteudo) edição de André Silva