Público se emociona em velório do ex-governador Roriz no Memorial JK
O corpo do ex-governador Joaquim Roriz está sendo velado no Memorial JK, às margens do Eixo Monumental. A população teve acesso ao local por volta da 15h30 desta quinta-feira (27/9) para se despedir do político que mais vezes comandou o Palácio do Buriti. A emoção tomou conta das pessoas que ao local.
Entre os presentes, muitos anônimos, que estão inconsoláveis. As pessoas entram no Memorial, beijam o ex-governador, choram e gritam o nome de Roriz. Ao lado do caixão, ficaram as filhas do ex-governador, Jaqueline e Liliane, e alguns políticos, entre eles, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Ele foi acompanhado da primeira-dama, Márcia, e prestou solidariedade à família.
Ex-vices-governadores de Roriz, Maria de Lourdes Abadia (PSB) e Benedito Domingos foram um dos primeiros a chegarem ao velório. “Brasília está de luto. Roriz era uma pessoa de bem. Antecipou o futuro. O legado mais lindo foi o amor incondicional aos pobres. Aprendi muito com ele”, disse Abadia. “É muita comoção. Foram 30 anos juntos. Que Deus o tenha. Por tudo que ele fez, pelo legado dele, Brasília será eternamente agradecida por Joaquim Roriz”, acrescentou Benedito.
O Memorial fica aberto até as 18h, mas, excepcionalmente, não fechará a partir desse horário devido ao velório do ex-governador. Às 9h desta sexta-feira (28), haverá, no monumento, uma missa pelo arcebispo emérito de Brasília Dom José Freire Falcão e, logo em seguida, um culto ecumênico no museu. O sepultamento está marcado para as 11h, no Cemitério Campo da Esperança na Asa Sul. O corpo será levado em carro aberto dos Bombeiros e escoltado pela PM. Roriz vai receber honras militares.
Segundo Dedé Roriz (PHS), sobrinho do ex-governador, a escolha pelo Memorial JK foi de Dona Weslian, viúva de Roriz. Segundo ele, a ex-primeira-dama do DF está “arrasada”. Ela saiu de casa, no Park Way, por volta das 16h45, para o velório. Chorou muito e passou mal ao ver o corpo do marido. Em nota divulgada mais cedo, Rollemberg disse que o Buriti estava à disposição da família.
O caixão chegou ao Memorial por volta das 14h. Roriz está sendo velado no hall do museu. Candidatos ao Palácio do Buriti, como Eliana Pedrosa (Pros), Ibaneis Rocha (MDB), Rogério Rosso (PSD), Alexandre Guerra (Novo) e Alberto Fraga (DEM), foram ao local, assim como o ex-governador José Roberto Arruda (PR), ex-secretário de Obras e sucessor de Roriz. Ele estava acompanhado da mulher, Flávia. O empresário Paulo Octávio (PP), que foi vice de Arruda, também estava no Memorial na tarde desta quinta.
A entrada dos populares está ocorrendo por ordem de chegada. Após passar pelo caixão, o público sai pela porta de trás do museu, de frente para o estacionamento. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros fazem a guarda no local. A PM escoltará o cortejo até o cemitério.
A área está dividida com cadeiras para os familiares e um espaço para a imprensa no lado oposto. No centro, fica o caixão. Roriz vai ser enterrado no Campo da Esperança em cova que ficará a 20 metros do túmulo de JK.
É o primeiro político a ser velado no Memorial. Em agosto de 2015, o ex-governador recebeu o título de Cidadão Honorário no mesmo monumento. O corpo de Roriz seguirá em carro aberto dos bombeiros até o cemitério. O esquema de trânsito na área central de Brasília ainda não foi divulgado. O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) decretou luto oficial de três dias.
O Detran-DF e PM estão fazendo intervenções no trânsito, próximo ao Memorial JK, nesta quinta (27). As faixas da esquerda das vias S1 e N1 foram interditadas. O estacionamento do Memorial JK está reservado para a família e autoridades. Já as vagas da Praça do Cruzeiro estarão disponíveis para a população. Por volta das 18h, mil pessoas tinham passado pelo velório, segundo a PM.
O ex-governador estava internado no Hospital Brasília, no Lago Sul, desde 24 de agosto, quando deu entrada com febre alta e suspeita de pneumonia. Os médicos confirmaram o óbito às 7h50 desta quinta (27), por choque séptico decorrente de complicações da infecção pulmonar, que resultou em falência múltipla dos órgãos.
O patriarca do clã Roriz estava na unidade de terapia intensiva (UTI) e chegou a apresentar melhora, quando foi transferido para um quarto no último dia 10.
Contudo, voltou a ser internado na UTI dois dias depois, onde permaneceu até o momento de sua morte. Algumas horas antes do óbito, Roriz sofreu uma parada cardíaca e foi submetido a traqueostomia. A cirurgia abriu um pequeno orifício na traqueia e uma cânula foi instalada para a passagem de ar. Depois, sofreu mais duas paradas cardiorrespiratórias.
Diabético e doente renal crônico, o quadro de saúde do ex-governador se agravou nos últimos anos. Em agosto de 2017, o Metrópoles revelou que Roriz precisou amputar dois dedos do pé esquerdo por causa da diabetes. O político voltou ao hospital 11 dias depois e teve parte da perna direita amputada, na altura do joelho.
Dois anos antes, em novembro de 2015, Roriz ficou quase uma semana internado após um quadro de hipertensão e taquicardia. Na época, precisou ser submetido a cateterismo.
Piora no quadro
Boletim médico no fim de agosto apontou quadro infeccioso. Joaquim Roriz precisou ainda retomar a alimentação por sonda. Diante da piora do quadro, médicos orientaram a ex-primeira-dama Weslian Roriz a evitar visitas na unidade de internação, pedido negado por ela.
Um dos principais líderes políticos do DF, Joaquim Roriz governou por 14 anos. Foi em Luziânia (GO), município a cerca de 60km do DF, onde o patriarca da família nasceu e iniciou a carreira política: elegeu-se vereador e deputado estadual pelo MDB. Foi também indicado prefeito interventor de Goiânia e governador biônico do DF pelo então presidente José Sarney (MDB). Antes, ocupou o cargo de ministro da Agricultura e Reforma Agrária nas duas primeiras semanas do governo Fernando Collor.
A familiares, Roriz sempre relatou ter recebido o ex-presidente Juscelino Kubitschek em sua primeira visita à região hoje conhecida como Distrito Federal. Ele veio dar início à transferência da capital no Rio de Janeiro, no litoral, para o centro do país, futuramente batizado de Brasília. Roriz era criador de gado e parte das terras desapropriadas pertenciam à família da esposa do ex-governador, Weslian Peles Roriz.
Força política
Durante sua trajetória política, na qual reuniu admiradores e críticos, Roriz se manteve como uma das maiores forças políticas do DF. Lançou à vida pública nomes hoje conhecidos, como o do ex-governador José Roberto Arruda (PR), o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (MDB), o ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR) e o candidato ao GDF pelo PSD, Rogério Rosso.
Além deles, o político investiu em inúmeros nomes que passaram pelo secretariado de suas gestões com o objetivo de conquistar cadeiras na Câmara Legislativa do DF ou na Câmara dos Deputados.
Em 2006, foi eleito senador. Iniciou o mandato em 2007 e renunciou após cinco meses para escapar de um eventual processo de cassação devido ao escândalo da Bezerra de Ouro, que apurou o suposto recebimento de recursos irregulares. Após ser diagnosticado com mal de Alzheimer pelo Instituto Médico Legal, a Justiça arquivou o processo contra o político.
Nas eleições de 2010, Roriz chegou a se lançar na disputa pelo Palácio do Buriti, mas desistiu por ter sido enquadrado nos critérios de inelegibilidade em função da renúncia ao mandato parlamentar. A mulher, Weslian Roriz, assumiu a cabeça de chapa, mas perdeu as eleições para Agnelo Queiroz (PT).
Ela obteve 33% dos votos válidos. Atualmente, por impedimentos legais, as duas filhas de Roriz que seguiram carreira política – Jaqueline e Liliane – não poderão concorrer em 2018. Contudo, o líder do clã manifestou desejo em relação à candidatura do neto que leva o mesmo nome do político a uma cadeira na Câmara dos Deputados.