Justiça manda afastar secretário de Saúde que vacinou ‘mulher da vida dele’ contra Covid-19, diz MP

Secretário de Saúde de Pires do Rio, no sudeste goiano, Assis Silva Filho foi afastado por 60 dias do cargo, segundo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). De acordo com o órgão, a medida foi solicitada à Justiça para que ele não atrapalhe investigações em andamento sobre o fato de ele ter cedido uma dose da CoronaVac à própria esposa, mesmo sem ela fazer parte dos grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI) da Covid-19.

O MP-GO divulgou que a medida de afastamento foi concedida pelo juiz José dos Reis Pinheiro Lemes na sexta-feira (22). O órgão informou ainda que, durante o período em que ele estiver afastado, correrão investigações para saber se ele cometeu os crimes de abuso de autoridade e prevaricação.

G1 tentou contato com o secretário na sexta-feira pela manhã e também na manhã deste sábado (23) para pedir um posicionamento, mas as ligações feitas não foram completadas. A reportagem também encaminhou mensagem às 7h56 e aguarda retorno.

Em transmissão ao vivo na sexta-feira (22), o secretário admitiu que deu uma dose da vacina contra a Covid-19 que o município de Pires do Rio recebeu à sua esposa. Durante o vídeo, ele pediu desculpas pela atitude que tomou e justificou que o fez para proteger a “mulher da vida dele”.

Secretário de Saúde de Pires do Rio justifica vacinação da esposa contra Covid-19
Secretário de Saúde de Pires do Rio justifica vacinação da esposa contra Covid-19

“Foi com intuito de resguardar e preservar a saúde e a vida da mulher da minha vida. Sou capaz de dar minha própria vida por ela”, afirmou.

Segundo o próprio secretário, a esposa dele tem mais de 70 anos e o acompanha no trabalho que ele faz, visitando muitas vezes as unidades de saúde do município. No entanto, não está prevista a vacinação de pessoas idosas que não estejam institucionalizadas nesta primeira fase do programa de imunização da Covid-19.

Por meio de nota, a Prefeitura de Pires do Rio informou que “as devidas providências já estão sendo tomadas e que a apuração dos fatos já está sendo realizada”.

Prioridades

Segundo diretrizes do Ministério da Saúde (MS) e da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), devem ser vacinados contra a Covid-19, com prioridade:

  • Profissionais da saúde;
  • Pessoas idosas residentes em instituições de longa permanência (institucionalizadas);
  • Pessoas a partir de 18 anos de idade com deficiência e residentes em Residências Inclusivas (institucionalizadas);
  • População indígena vivendo em terras indígenas.
Governador Ronaldo Caiado aplica dose da vacina contra a Covid-19 na primeira goiana imunizada em Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Governador Ronaldo Caiado aplica dose da vacina contra a Covid-19 na primeira goiana imunizada em Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Furada de fila

Ao menos outras duas cidades goianas registraram casos de “furada de fila”, em que pessoas que não estão nos quatro grupos prioritários são imunizadas: Mineiros e Santa Helena de Goiás, ambas no sudoeste goiano.

Em Santa Helena, a imunização de uma dentista causou revolta em moradores. Ela trabalha em clínica particular de odontologia e não pertence ao grupo prioritário definido pelo MS.

Punição e riscos

A subprocuradora-geral de Justiça do Ministério Público de Goiás, Laura Maria Ferreira, afirmou que o plano de imunização tem que ser cumprido e que, caso contrário, o gestor responsável pela “furada de fila” pode ser punido.

“[Crimes] que podem ser tipificados como abuso de autoridade para o gestor, como a famosa ‘carteirada’. Isso não pode acontecer “, disse.

Imagem divulgada da vacinação contra a Covid-19 em Mineiros — Foto: Reprodução/Instagram

Imagem divulgada da vacinação contra a Covid-19 em Mineiros — Foto: Reprodução/Instagram

Na quinta-feira (21), a presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Goiás (Cosems), Verônica Savatim, falou sobre o risco de desrespeitar a lista de prioridades.

“As doses vieram específicas. […] O grande risco é você deixar de vacinar aquele grupo que ficou definido e vacinar outros que não estavam pactuados. O profissional de saúde, por exemplo, está muito exposto, independente de onde estiver”, pontuou.