Que inveja de Maduro não deve estar sentindo Bolsonaro…
“Chávez é uma esperança para a América Latina e gostaria muito que essa filosofia chegasse ao Brasil", disse Bolsonaro em entrevista quando era deputado federal
À época, deputado federal pela segunda vez, Jair Messias Bolsonaro, afastado do Exército por indisciplina e conduta antiética, celebrou a eleição para presidente da Venezuela do coronel Hugo Chávez, que governaria o país por 14 anos, de 1999 até sua morte, em 2013.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Bolsonaro disse:
“Chávez é uma esperança para a América Latina e gostaria muito que essa filosofia chegasse ao Brasil. Acho ele ímpar. Pretendo ir à Venezuela e tentar conhecê-lo. Ele não é anticomunista, e eu também não sou. Na verdade, não tem nada mais próximo do comunismo do que o meio militar”.
Também disse que Chávez remetia a Castelo Branco, primeiro presidente do Brasil durante a ditadura militar, entre 1964 e 1967: “Acho que ele vai fazer o que os militares fizeram no Brasil em 1964, com muito mais força. Só espero que a oposição não descambe para a guerrilha, como fez aqui”.
A esta hora, que inveja Bolsonaro não deve estar sentindo de Nicolás Maduro, que sucedeu a Chávez, governa a Venezuela há 11 anos, e que no início da madrugada de hoje, com 80% dos votos apurados por um Conselho Eleitoral sob seu controle, foi declarado reeleito para um novo mandato de seis anos.
Não governa: com o apoio dos militares, Maduro desgoverna a Venezuela, que já perdeu 20% de sua população, em fuga por falta de empregos, remédios e de condições mínimas para levar uma vida decente. Bolsonaro bem que tentou, mas não conseguiu se eternizar no poder como Maduro. Daí a inveja.
A levar-se em conta o que apontaram as pesquisas de intenção de voto realizadas até sábado, Maduro seria derrotado com folga pelo candidato da oposição, o diplomata Edmundo González Urrutia. As pesquisas subestimaram a força da máquina do chavismo especializada em repressão e fraudes.
Há duas maneiras de contar votos na Venezuela: uma digital, executada pelo órgão eleitoral do país liderado por um aliado de Maduro; e a outra em papel impresso, feita por cada máquina de votação nos locais de votação. A contagem em papel serve para certificar se a contagem digital está correta.
Mas este ano, em zonas eleitorais-chave, seus responsáveis se recusaram a entregar as contagens em papel aos fiscais de partidos. Esse foi o caso em uma das maiores estações de votação em Caracas, a escola Rafael Napoleon Baute, e na segunda maior cidade da Venezuela, Maracaibo.
Quando os apoiadores do candidato da oposição no Liceo Andrés Bello, em Caracas, reclamaram de terem sido impedidos de acessar a contagem de votos em papel, uma gangue de pelo menos 150 apoiadores de Maduro, em motocicletas, chegou gritando cânticos pró-governo.
Um repórter do Washington Post viu os homens, encapuzados e vestidos de preto, começarem a socar e chutar aqueles do lado de fora do centro de votação, ferindo várias pessoas. “Viva Nicolás”, eles gritaram. Episódios como esse se repetiram em vários pontos do país e foram relatados por testemunhas.
“O fascismo na Venezuela, terra de Bolívar e Chávez, não passará. Nem hoje nem nunca”, assegurou Maduro no primeiro pronunciamento após o anúncio de sua vitória. Os presidentes de Cuba, Nicarágua, Bolívia e Honduras, ligados ao chavismo, logo se apressaram em parabenizá-lo.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, não: cobrou a apresentação dos relatórios de contagens dos votos em papel. Até o momento em que escrevo, o governo brasileiro segue calado.
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