Ministério Público investiga a compra de 160 veículos por padre

O promotor à frente do caso, Douglas Chegury, afirma que a relação de veículos foi encontrada na casa de um dos suspeitos de envolvimento com o esquema, o secretário da Cúria de Formosa, Guilherme Frederico Magalhães. Ele foi preso durante a operação e solto cinco dias depois. “A suspeita é de que os veículos eram vendidos e o dinheiro não entrava de volta nos cofres da Igreja. Além disso, eles continuavam registrados no nome da Cúria”, explica Chegury. Até o momento, os investigadores identificaram esse tipo de atividade em apenas um dos carros.
Chegury afirma que solicitará o apoio do Departamento de Trânsito de Goiás (Detran-GO) para identificar a localização e os modelos dos automóveis. “Precisamos saber se esses veículos ainda estão sendo usados pela Igreja ou se foram vendidos a terceiros. Além disso, devemos descobrir o motivo dos supostos compradores não terem feito a transferência de posse”, diz. Como os veículos estão vinculados à Igreja, ficam isentos de impostos.
Habeas corpus
Na terça-feira, o bispo dom José Ronaldo Ribeiro e o juiz eclesiástico Tiago Wenlcescau tentaram o segundo pedido de habeas corpus. Anteriormente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já havia negado a análise. A defesa encaminhou a solicitação ao Supremo Tribunal Federal (STF) e aguarda. Outros seis denunciados também tiveram o pedido de habeas corpus negados pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO).
Continuam presos o monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, vigário-geral da Diocese de Formosa; os padres Moacyr Santana, pároco da Catedral Nossa Senhora Imaculada Conceição de Formosa; Mário Vieira de Brito, pároco da Paróquia São José Operário de Formosa; Waldson José de Melo, pároco da Paróquia Sagrada Família de Posse (GO); e os empresários Antônio Rubens Ferreira e Pedro Henrique Costa Augusto, apontados como laranjas.
Intervenção do Vaticano
Em 19 de março, o desencadeamento da Operação Caifás, do Ministério Público de Goiás (MPGO), resultou na prisão de nove pessoas acusadas de desviar dinheiro de paróquias vinculadas à diocese de Formosa (GO). Até o momento, os investigadores dizem ter comprovado a compra de uma fazenda de gado em Formosa, uma lotérica em Posse (GO), duas caminhonetes, joias e moedas estrangeiras. Os itens estão avaliados em ao menos R$ 1,4 milhão. Durante a execução dos mandados, agentes apreenderam R$ 156 mil em espécie – R$ 8 mil em moeda estrangeira. Os relógios de marca encontrados estão sendo avaliados para estimar o valor de cada peça.
Por causa do escândalo, o papa Francisco ordenou a abertura de uma investigação por parte da Igreja Católica brasileira. O MPGO entregou uma cópia do inquérito à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A apuração da Santa Sé não tem prazo. No entanto, admite o afastamento imediato e a expulsão, caso seja comprovada a culpa, de dom José Ronaldo Ribeiro. Para manter as atividades da Igreja na região e tranquilizar os fiéis, Francisco nomeou o arcebispo de Uberaba (MG), dom Paulo Mendes Peixoto, administrador apostólico da diocese de Formosa. Ele assumiu a função há uma semana. Ao Correio, disse estudar uma auditoria pública nas contas da diocese de Formosa.