Papa é criticado por não ter enfrentado ditadura militar na Argentina
O legado do novo papa Jorge Mario Bergoglio como cardeal inclui seus esforços para reparar a reputação de uma igreja que perdeu muitos seguidores por não desafiar abertamente a ditadura argentina entre 1976 e 1983. Na época, seu próprio histórico como líder da Companhia de Jesus na Argentina também foi manchado.
Muitos argentinos ainda se ressentem da falha reconhecida pela Igreja Católica, que não enfrentou um regime ditatorial que estava sequestrando e matando milhares de pessoas com a justificativa de procurar eliminar os “elementos subversivos” da sociedade. Essa é uma das razões pela qual mais de dois terços dos argentinos dizem ser católicos, mas menos de 10% assistem regularmente à missa.
Sob a liderança de Bergoglio, os bispos argentinos fizeram um pedido de desculpas coletivo em outubro de 2012 para as falhas da Igreja em proteger seu rebanho. Mas a declaração culpou a violência da época em medida quase igual tanto para a junta militar quanto para seus inimigos.
“Bergoglio tem sido muito criticado por causa das violações dos direitos humanos durante a ditadura, mas ele também sempre criticou as guerrilhas de esquerda, ele não se esqueceu desse lado”, disse Sergio Rubin, seu biógrafo oficial. O próprio papel de Bergoglio na chamada Guerra Suja tem sido objeto de controvérsia.
Pelo menos dois processos judiciais envolvem diretamente Bergoglio. Um deles examinou a tortura de dois sacerdotes jesuítas que foram sequestrados em 1976 das favelas onde defendiam a Teologia da Libertação. Um deles acusou Bergoglio de entregá-lo à junta militar.
Os dois padres foram libertados depois de Bergoglio, nos bastidores, promover uma ação extraordinária para salvá-los. Essa ação incluiu persuadir a família do ditador Jorge Videla e rezar missa aos doentes na casa do líder da junta militar, onde privadamente ele apelou por misericórdia. Sua intervenção provavelmente salvou as vidas dos sacerdotes, mas Bergoglio nunca compartilhou os detalhes dessa história até que Rubin o entrevistou, em 2010, para uma biografia.
Rubin disse que não enfrentar os ditadores foi simplesmente uma atitude pragmática em um momento no qual muitas pessoas estavam sendo mortas. Ele atribuiu a Bergoglio, mais tarde, a relutância em partilhar o seu lado da história como um reflexo de sua humildade.
Bergoglio também foi acusado de virar as costas para uma família que perdeu cinco parentes para o Estado de Terror, incluindo uma jovem grávida de cinco meses, antes que ela fosse sequestrada e eventualmente morta em 1977. O filho dessa mulher, que sobreviveu, foi dado a uma “importante” família.
Apesar das evidências escritas, indicando que ele soube que a criança havia sido dada, Bergoglio testemunhou em 2010 que não sabia sobre quaisquer bebês roubados até bem depois do fim da ditadura. As informações são da Associated Press.