Violência na Bósnia

Uma manifestação contra a miséria e o desemprego terminou em violência nesta sexta-feira em Tuzla (noroeste da Bósnia) e em Sarajevo, onde os manifestantes invadiram a sede do governo local.

Uma centena de jovens encapuzados vestidos com a camisa da equipe de futebol local de Tuzla entrou no edifício onde saquearam móveis e jogaram TVs pelas janelas.

Mais de 5.000 manifestantes presentes no local aplaudiram a cena. Centenas de policiais formaram um cordão de isolamento em torno do imóvel que abriga os serviços de emergência da cidade. Fogo e uma espessa fumaça podiam ser vistos escapando do primeiro andar deste prédio de dez andares.

Os manifestantes que estavam dentro do imóvel impediram que os bombeiros apagassem as chamas. O mesmo aconteceu em Sarajevo, onde manifestantes quebraram as janelas e incendiaram as guaritas da sede do governo cantonal, segundo relatos da televisão estatal.

Um dos líderes dos manifestantes, Aldin Siranovic, declarou que os manifestantes exigem a saída do governo.”Eles têm nos roubado há 25 anos e destroem o nosso futuro. Queremos que vão embora”, lançou à multidão.

Trata-se de manifestações sem precedentes nesta antiga república iugoslava desde o fim da guerra de 1992-95. Elas ilustram o descontentamento do povo contra uma classe política corrupta e incapaz de recuperar uma economia em frangalhos.

“A revolta dos cidadãos!”, era a manchete do principal jornal Dnevni Avaz. “A primavera bósnia!”, afirmou por sua vez o Oslobodjenje.

Atormentada por uma corrupção endêmica, este país dos Balcãs de 3,8 milhões de habitantes é um dos mais pobres da Europa. O desemprego atinge 44% da população ativa, mas o Banco Central estima que o número de pessoas sem emprego é de 27,5%, porque muitos trabalham no mercado informal.

O salário mensal médio é de 420 euros. Segundo estatísticas do governo, quase um habitante em cada cinco vive na pobreza.

“Cada vez mais pessoas vivem na miséria e na pobreza, eles têm fome. O povo perdeu a esperança e não acredita em uma melhora da situação. Manifestar é seu meio” de ser escutado, comentou o analista político, Vehid Sehic.

“Policiais! Vocês são nossos irmãos, nossos camaradas, nossos vizinhos! Juntem-se à nós”, lançou às forças de ordem, Nihad Karac, um manifestante.

“Tenho 28 anos e estou desempregado há dez!”, gritou um manifestante.

Nesta sexta-feira, as escolas e universidades permaneceram fechadas em Tuzla, por medo de novas manifestações violentas.

Quinta-feira à noite, oficiais da polícia e da justiça foram convocados para avaliar a situação da segurança.

Na véspera, trinta manifestantes e 104 policiais foram levados ao longo do dia para o centro de emergência de Tuzla com ferimentos causados por objetos duros e irritação nos olhos devido ao gás lacrimogêneo, segundo o porta-voz do estabelecimento, Adis Nisic.

Oito manifestantes foram presos.

Como nos dias anteriores, manifestações devem acontecer em vinte cidades, incluindo Sarajevo, Prijedor (norte), Mostar (sul), Banja Luka (norte), Zenica (centro) e Bihac (noroeste).

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