“Todas as empresas fizeram o pagamento dos funcionários, exceto a Pioneira. Fizemos o repasse às cinco empresas, no valor total de R$ 18,1 milhões. O que a empresa alega é que é insuficiente, pois o GDF tem o débito com ela de R$ 7 milhões que diz respeito à operação branca do Expresso DF Sul. Só que essa operação não tem respaldo legal. Nós identificamos que a forma como a empresa vinha sendo remunerada, por quilômetro rodado, é vedada por lei. Não se pode pagar por quilometragem. E era assim que o governo anterior vinha remunerando a Pioneira”, disse Tomé.
Para tentar resolver o impasse, o GDF chegou a propor à empresa que fizesse uma operação comercial, cobrando dos passageiros o valor da viagem. Porém, a Pioneira teria recusado a ideia. “Ao que tudo indica, essa empresa tinha um relacionamento privilegiado com os antigos administradores. Nós, agora, não iremos continuar com uma prática de pagamento que afronta a lei. Não há mais qualquer relacionamento privilegiado”, destacou Tomé. De acordo com o gestor, assim que assumiu o Buriti, a equipe descobriu uma “enorme disparidade em favor da empresa”. “Algumas estavam há 60 dias sem receber, enquanto a Pioneira estava há quatro dias”, disse.
Empresas expõem débitos
A Associação das Empresas de Transporte Coletivo e Urbano do DF declarou que o valor repassado às cinco operadoras corresponde a 33% do valor devido em 2015. Sobre o BRT, diz que a Pioneira “ está à disposição do DFTrans para iniciar a cobrança”. “A operadora tem 625 carros, tendo a maior folha de pagamento do sistema. Vale lembrar que ainda não são cobradas passagens dos usuários do BRT desde o início da operação, o que causa um déficit ainda maior. A empresa enviou ao banco a folha de pagamento e aguarda o repasse do governo para efetuar o pagamento dos rodoviários e fornecedores”, informou.
Dívida com todas as 5
A Pioneira, apontou o secretário Carlos Tomé, é a transportadora que tem menos recursos a receber do GDF. “Temos uma dívida deste ano com as empresas de R$ 13 milhões. Com a Pioneira, é de R$ 500 mil. Ela é que a mais recebe do governo”, salientou. Além disso, o GDF tem também o valor acumulado da gestão passada de R$ 51 milhões, sendo R$ 4 milhões apenas da chamada operação branca. “Esses são valores que se referem a serviços prestados, com pagamentos que não foram honrados pela administração anterior”, lembrou o secretário, ressaltando que, agora, não há condições de quitar esses débitos.
Por isso, adiantou, a volta da Pioneira às ruas depende da própria empresa, que recebeu o dinheiro deste mês. “Não podemos interferir na relação empregador e empregados”, afirmou Tomé. Para ele, como o transporte opera em um sistema de concessão, a greve, neste momento, diz respeito à Pioneira.
“Nós fazemos o repasse na véspera ou dias antes do vencimento dos funcionários justamente para que a empresa pague”, disse. Caso a situação não seja resolvida até o início da próxima semana, aí sim, o próximo passo é estudar um plano de contingência, que permitiria o remanejamento de frotas.
Cenário parecia de guerra
Enquanto a situação não é resolvida, usuários do transporte público das regiões atendidas pela Viação Pioneira apelam para os ônibus piratas, que chegam a cobrar R$ 1 a mais pela passagem. Na Rodoviária do Plano Piloto, a volta para casa ontem mais parecia com um cenário de guerra. Havia policiais espalhados por todos os cantos, prontos para entrar em ação.
Nos veículos, brigas e empurrões entre as pessoas. Os coletivos estavam lotados e na porta das vans, os cobradores gritavam “cabe mais, sempre cabe”. Transtornados, os passageiros corriam de um lado para o outro, em busca de um lugar para sentar nos bancos. Afinal de contas, o percurso mais curto entre o Plano Piloto e alguns locais da bacia não leva menos de 30 minutos.
Sem saída
“Não tem outro jeito. A gente apela para isso porque é a única solução, infelizmente. É horrível. A gente paga mais caro por um serviço pior para poder chegar em casa. Hoje, deve levar uns 35 minutos ou mais. Imagina tudo isso de pé. É por isso que o povo briga”, relatou a diarista Onelise Rodrigues, de 47 anos. Ela mora no Paranoá e teve de apelar para o transporte pirata para conseguir voltar para casa. Ela e outros passageiros da van quase caíram no momento de entrar no veículo.
“Vale tudo para ir sentada”, brincou a passageira, que esperou o transporte em uma fila de mais de 60 pessoas. Mesmo assim, ela deu razão ao movimento dos rodoviários. “Quem gosta de trabalhar sem receber? Ninguém”, disse.
Transporte pirata é “caso de polícia”
Diante do cenário, o secretário de Mobilidade, Carlos Tomé, avaliou que a ação das pessoas que fazem o transporte pirata é “um caso de polícia”. Contudo, defendeu, “o transporte pirata é uma prática que merece a repressão do Estado. Infelizmente, não temos capacidade repressiva para coibir e nem a segurança suficiente para garantir que o transporte coletivo funcione sem paralisações”, declarou.
Já o diretor do DFTrans, Clóvis Barbará, disse que estão sendo estudadas maneiras de conter a situação durante o período. “Vamos continuar avaliando o desenrolar dessa greve para verificar as alternativas que podemos adotar para amenizar o problema”, garantiu.
Além disso, ele explicou que a aplicação do plano de contingência, no caso de a empresa não voltar a rodar o quanto antes, exige recadastramento de frotas e outros detalhes operacionais. “Vamos trabalhar nos próximos dias. Nós fomos pegos de surpresa, pois o GDF fez o repasse às empresas”, ressaltou.
Usuários no meio de impasse
A frota da Viação Pioneira é composta por 650 ônibus. Ela atende as regiões do Itapoã, Paranoá, Jardim Botânico, Lago Sul, Candangolândia, parte do Park Way, São Sebastião e Gama. “É péssimo passarmos por isso. Vim o caminho todo espremido, igual sardinha na lata. E o pior é que estamos de mãos atadas”, desabafou ainda o vigilante João Pedro Ferreira, de 47 anos.
Ele mora em São Sebastião e faz o caminho oposto no horário de pico. “Seria uma vantagem se não tivesse tanta paralisação de ônibus. Porque lá, em São Sebastião, está um caos”, afirmou. João pagou R$ 2,50 na passagem. O preço normal é R$ 2.
“Ajuda”
Os donos dos veículos piratas, por outro lado, acreditam que mesmo cobrando a mais, estão prestando um serviço à população abandonada pelo governo.
“Estou resgatando o povo que não tem como voltar para casa. Eu estou ajudando, na verdade”, salientou Henrique Ferreira, de 64 anos. Proprietário de um ônibus escolar, ele estava cobrando R$ 3 do Itapoã ao Paranoá. O que, para ele, é um preço justo. “Não dá para fazer mais barato. Se não, fico sem lucro”, disse, enquanto recebia os passageiros.
Saiba mais
O Jornal de Brasília tentou entrar em contato com o Sindicato dos Rodoviários no período da tarde. Porém,
o representante da entidade João Jesus de Oliveira não atendeu as ligações. Pela manhã, ele havia informado que tentava negociar com as empresas.