Vendas de Natal no DF crescem ainda menos do que se previa

O desempenho no Natal e no Ano-Novo não salvará o comércio do Distrito Federal de um 2016 ruim. Mesmo sem precisar números, o presidente da Federação do Comércio (Fecomércio-DF), Adelmir Santana, projeta indicadores piores do que no ano passado.
“Em todas as datas comemorativas de 2016, os números foram piores que em 2015. Por que o Natal seria diferente?”, justifica Santana, que estende seu pessimismo à movimentação nas lojas. “Como empresários, a gente tem que ser otimista, mas não há indicativos que corroborem isso. Estamos na semana do Natal e a gente não vê os reflexos”, prossegue.
Sua percepção é compartilhada por consumidores. Eles revelam ter mudado o comportamento de compras natalinas em 2016 devido ao temor quanto à crise financeira do País e à falta de emprego. A estudante Ana Cláudia Silva, 20 anos, por exemplo, adquiriu “lembrancinhas” apenas para os pais.
“Ano passado eu peguei mais coisas, mas agora está tudo bem caro e eu estou à procura de trabalho também”, explica a moça, que foi a um shopping no centro da cidade em companhia da colega, Bruna Benevides, estudante também de 20 anos. A amiga, inclusive, foi ainda mais radical que Ana Cláudia e não fez compras.
“Acho que existe uma pressão dos amigos para comprar coisas, estar sempre bem vestido e tal”, opina a estudante, que ressaltou ter constatado menos gente nos corredores do shopping em relação a 2015. “Eu vi várias pessoas passeando, olhando as vitrines, mas poucas parando para comprar”, relata.
Discordância
A Associação Comercial do DF (ACDF) e o Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista) veem o copo meio cheio. Ao contrário do pessimismo da Fecomércio e das amigas Ana Cláudia e Bruna, o presidente da ACDF, Cléber Pires, projeta surpreendentes 15% de crescimento de vendas para o setor neste Natal e Ano-Novo.
“Nossas perspectivas são boas devido às grandes liquidações. O poder de endividamento das pessoas não está bom, mas o consumo torna-se quase obrigatório nesta época do ano”, justifica Pires. Para ele, o tíquete médio do consumidor ficará entre R$ 150 e R$ 170, similar a 2015, mas as pessoas poderão comprar mais produtos devido aos supostos “preços convidativos” no mercado. “Apesar das limitações, as pessoas driblam a crise e não resistem fazer a troca dos presentes recebidos também”, afirma.
Cresce venda de perfumes e de sapatos
O presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, concorda com as projeções de venda otimistas, mas contradiz o valor do tíquete médio de cada consumidor. Para a entidade, as pessoas podem gastar, em média, até R$ 100 a mais do que em 2015.
“Com a situação do País, a pessoa tem que deve dar presente prefere os menores. Mas elas acabam presenteando mais gente”, acredita Castro, que destaca crescimento nos setores de perfumaria e sapataria. Ele ainda prevê aumento de 2% no faturamento do setor em 2016. “Mas tem lojista que projeta até 20% de crescimento, dependendo do segmento. A média (de faturamento entre as lojas) está baixa, mas tem gente que cresceu”, faz a ressalva.
O cozinheiro Ricardo Lopes da Silva, 30, levou a pequena Juliane Lopes, de cinco anos, para fazer as compras natalinas em um centro comercial do Plano Piloto. O pai conta ter gastado cerca de R$ 200 com presentes, valor dentro da média projetada pelo Sindivarejista. Ele, no entanto, revela que essa quantia é quase um décimo do que dispendeu em 2015.
“Os preços não estão dando para a gente. O custo de vida em Brasília já é alto, então tem que priorizar certas coisas”, diz. O cozinheiro acredita que menos pessoas foram às lojas e defende o ponto de vista ao constatar o tempo gasto na saída. “Não passei nem 20 minutos na fila do estacionamento, o que é uma raridade. O movimento está fraco”, afirma.
Silva também critica a falta de variedade e de diferença de preços entre as lojas. Para ele, os estabelecimentos se abasteceram com menos produtos e nivelaram os valores cobrados por eles. “Eu sinto que está tudo muito pior. Só comprei mesmo porque tinha me família e o amigo oculto do trabalho. Não fosse por isso nem sei se ia sair para comprar”, conclui.
PONTO DE VISTA
O economista Newton Marques acha difícil acreditar nas projeções otimistas das entidades de comércio. “Temos que considerar o que leva o comércio a crescer. O poder de compra da sociedade cresceu nesse período? não. O governo tomou alguma medida que vai facilitar a vida do consumidor? Não. Então fica difícil imaginar que o consumo vai crescer”, diz, categórico.
Ele ainda cita que a principal classe consumidora de Brasília, a classe média que atua no serviço público, sofreu, tanto com atrasos salariais quanto com a inflação. “Quantos não estão endividados e vão usar o dinheiro para zerar ou reduzir o débito? Partindo desse pressuposto não tem como ser um bom ano”, frisa. Para o economista, 2017 será ainda pior.
