Don Juan dá golpe de R$ 500 mil em promotora de Justiça

Seduzir, casar e enriquecer às custas das companheiras eram os principais objetivos de um homem preso preventivamente pela Polícia Civil do Distrito Federal. O curioso dessa ocorrência é que o acusado de estelionato era casado com duas mulheres e vivia uma rotina de mentiras para justificar a ausência do lar: fingia viagens para alternar a permanência entre as residências.

O Don Juan, alvo de um processo que corre sob sigilo no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), passou cinco anos casado com uma promotora do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e desviou cerca de R$ 500 mil das contas bancárias dela. O suspeito foi preso por investigadores da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) nessa sexta-feira (18/10/2019), pelos crimes de furto, estelionato, posse sexual mediante fraude e exercício ilegal da profissão.

O estelionatário, conhecido como Júnior, 27 anos, terá a identidade completa mantida sob sigilo para preservar as vítimas. De acordo com informações obtidas pelo Metrópoles, o golpista passou a ser investigado, após sua esposa procurar a delegacia da Asa Sul em setembro, para informar que havia sido vítima de estelionato sentimental. A promotora de Justiça relatou que estava casada com o Don Juan havia cinco anos e tinha descoberto que o marido mantinha união estável com outra mulher havia pelo menos dois anos e meio.

Para seduzir a promotora, o estelionatário construiu uma imagem que jamais existiu. Ele e a vítima se conheceram por meio de amigos em comum. O golpista se apresentava como analista financeiro com formação em contabilidade pela Universidade de Brasília (UnB), o que nunca ocorreu. Morando confortavelmente com a esposa na casa dela, no Park Way, o criminoso passou anos mentindo que seria funcionário de uma grande corretora de seguros, com base em São Paulo.

Golpe de R$ 500 mil

Com o pretexto de que precisaria viajar semanalmente para a capital paulista, o Don Juan enganava a promotora e aproveitava para passar alguns dias com a segunda companheira. Ela é uma estudante de psicologia de 26 anos. Ela acreditava que Júnior era divorciado e confiava que as constantes ausências dele ocorriam em razão de um curso de mestrado que ele dizia fazer em um país europeu. Por isso, as viagens para assistir às aulas. Para tentar evitar ser flagrado, o suspeito não possuía nenhum tipo de rede social.

Durante o casamento com a promotora, o Don Juan conseguiu convencer a esposa a entregá-lo grandes quantias em dinheiro. Em um primeiro momento, o estelionatário recebeu R$ 100 mil da mulher, supostamente para pagar os credores de uma empresa da qual seria o dono e que havia falido. No entanto, Júnior jamais foi proprietário de qualquer empresa, segundo as investigações. Ao longo dos anos de união, o golpista fez com que a esposa assumisse diversos empréstimos bancários com o pretexto de realizar investimentos.

Somados, os valores alcançam R$ 500 mil. Aos poucos, a promotora foi descobrindo a rede de mentiras e de desfalques financeiros. O Don Juan afirmava investir o dinheiro da esposa em diversos tipos de aplicações financeiras. No entanto, o criminoso embolsava as quantias e as gastava com a aquisição de motocicletas e veículos de luxo.

Joias furtadas

No ano passado, segundo as apurações da polícia, o estelionatário pediu à esposa a quantia de R$ 33 mil, sob o pretexto de fazer mestrado em uma faculdade particular do DF, o que nunca ocorreu. A polícia ainda investiga se antes e durante o casamento com a promotora, Júnior tenha furtado dinheiro e joias dela, sempre colocando a culpa em empregados, que acabavam demitidos.

Entre os maiores golpes do Don Juan contra a própria esposa, está a criação de uma pirâmide financeira encorpada com o dinheiro desviado da promotora. Prometendo assumir todos os riscos dos investimentos, Júnior induziu várias pessoas conhecidas a repassarem grandes quantias em dinheiro para que ele realizasse aplicações financeiras.

Para adquirir a confiança dos clientes, o estelionatário firmava contratos de prestação de serviços nos quais prometia retorno mensal de 5% do valor investido e afirmava assumir todos os riscos dos investimentos. Caso a pessoa desistisse da aplicação, o Don Juan afirmava que faria a devolução total do dinheiro investido.

Júnior dizia fazer aplicações em bolsa de valores e em contratos do tipo Forex – abreviação de Foreign Exchange, que permite a compra de pares de moedas, apostando na valorização ou desvalorização de uma sobre a outra. Contudo, a prática é proibida no Brasil e, após alguns meses, os investidores deixavam de receber os dividendos.

Descoberta do golpe

Sobre o segundo relacionamento de Júnior com a estudante de psicologia, a rede de mentiras sustentadas pelo criminoso era o mesmo que ele mantinha com a promotora, com algumas exceções. O estelionatário também se apresentou como contador e analista financeiro. O golpista afirmava que teria conseguido uma bolsa de estudos para a companheira fazer uma pós-graduação na Europa.

Além de se relacionar com a estudante, o autor conviveu também com os familiares dela e passou algumas festas de final de ano em companhia deles. Júnior ficou noivo da namorada, com casamento marcado. Alugou um imóvel para ambos morarem e elaborou um contrato de união estável fazendo a mulher assinar, mas ele nunca o assinou.

O suspeito ainda não permitia que a noiva trabalhasse ou fizesse estágios e, com o dinheiro obtido com a promotora, mantinha as despesas que tinha com a segunda mulher.

Um mês após estarem morando juntos, a estudante descobriu que Júnior era casado. Eles haviam viajado para o Nordeste e lá, a noiva achou, dentro da mala utilizada por Júnior, um recibo que continha o endereço dele com a primeira mulher, pois a bagagem era da promotora. Quando eles voltaram de viagem, o Don Juan pediu para a noiva o levar ao aeroporto, pois teria que viajar para suas aulas na Europa.

Desconfiada, a estudante o deixou no aeroporto e foi para o endereço que havia descoberto. Pouco tempo depois, a mulher flagrou o golpista chegando em casa na companhia de sua primeira mulher. Para a promotora, o autor disse que tinha viajado a trabalho.

Ao ver Júnior no carro de outra mulher, a estudante de psicologia não se conteve e interfonou na residência. Foi atendido pela verdadeira sogra do estelionatário. Ela perguntou se Júnior morava lá e recebeu a resposta positiva. Em seguida, pediu para falar com a mulher dele. A promotora a atendeu e ambas descobriram estarem sendo enganadas. As duas compareceram à delegacia e informaram tudo o que havia ocorrido.

Além das acusações de furto e estelionato praticados contra a promotora, Júnior é investigado por prática de pirâmide financeira e estelionatos contra investidores, além do crime de posse sexual mediante fraude e exercício ilegal da profissão. A reportagem não localizou a defesa dele para comentar as acusações.

fonte:

Metrópoles