Câmara Legislativa ouve familiares de adolescentes do DF mortos em ação da PM no Entorno

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) ouviu, na manhã desta sexta-feira (13), familiares dos três jovens de Brasília mortos em março deste ano, na Cidade Ocidental (GO), depois de um suposto confronto com a Polícia Militar de Goiás (PMGO).

O encontro foi a pedido da comissão, que vai acompanhar o caso, e também ofereceu proteção pessoal às famílias, que disseram ter medo de “possíveis retaliações”. Para os deputados, “o caso é emblemático”.

Mateus Rennan Gomes Barreiro, de 16 anos, Lucas Rodrigues dos Santos, de 17 anos, Riquelme Lucas Cardoso Rocha, de 18 anos, e o motorista Vanilson Andrade de Siqueira, de 43 anos, foram mortos com 39 tiros disparados por militares do batalhão de Rondas Ostensivas Táticas Metropolitana (Rotam).

“Esse tipo de violência é constante no Entorno. Nós precisamos colocar um lupa sobre Goiás, porque existem cidades e municípios muito violentos”, disse a representante do gabinete do deputado Fábio Félix (PSol). O parlamentar é presidente da comissão, mas não participou da reunião desta sexta-feira.

‘Isso não vai dar em nada’

Duas horas antes de morrer, jovem do DF mandou mensagem para amigo sobre ação policial

Duas horas antes de morrer, jovem do DF mandou mensagem para amigo sobre ação policial

Duas horas antes de morrer, Lucas mandou mensagens de texto e de áudio para um amigo, dizendo que o grupo havia sido pego pelos policiais da Rotam. A mãe de Mateus disse ao G1 que desde o dia 11 de março, quando foi até a delegacia da Cidade Ocidental, pela primeira vez, vem sendo aconselhada pela própria polícia de Goiás a “desistir do caso”.

“Eles falaram pra mim, e para as outras mães também, pra parar com essa história porque não vai dar em nada”, diz a mãe de Mateus.

“A primeira vez que falei com a polícia, perguntei cadê as cápsulas, as balas do confronto? Me responderam: ‘a senhora acha que a Rotam deixa vestígios?’ Lá mesmo quando você dá o seu relato, a polícia te induz a desistir”, completa a mulher.

Os parentes pedem para não ser identificados, por temerem represálias, mas garantem que não irão parar de denunciar a falta de respostas . “Não adianta eles me intimidarem. Eu perdi a minha vida, que era meu único filho. Eu não tenho medo, porque não tenho mais nada a perder”, diz mãe de Mateus.

A mãe de Riquelme também disse à Comissão de Direitos Humanos que foi ameaçada por agentes da Rotam de Goiás. “

Eles (PMs) chegaram a ir na minha casa. Eu até mudei de endereço. Eles querem que a gente esqueça a morte dos nossos filhos, mas nós não vamos esquecer”, diz a mãe de Riquelme.

O pai de Lucas diz que a tristeza da perda do filho, “de forma tão violenta como foi”, não vai passar nunca, mas que buscar respostas pode ajudar outras famílias. “A gente sabe que isso não aconteceu só com o nosso filho. Mas cobrar a verdade dessa história, uma explicação, pode fazer com que a polícia reveja esse tipo de abordagem”, disse à CLDF.

“Outras famílias podem ser poupadas desse sofrimento no futuro”, diz o pai de Lucas.

G1 questionou a Polícia Militar e a Polícia Civil do estado de Goiás sobre o caso. No entanto, até a última atualização desta reportagem, não obteve resposta.

Relembre o caso

Os três jovens e o motorista jovens foram mortos no dia 7 de março. No local do suposto confronto com a Polícia Militar de Goiás, a perícia não encontrou vestígios suficientes para determinar a dinâmica dos fatos.

No laudo, a polícia técnica afirma que o local onde ocorreram as mortes não foi preservado, e que houve alteração da cena antes da chegada dos peritos.

Segundo as mães de Mateus, Lucas e Riquelme, os adolescentes tinham passagens pela polícia por roubo e tráfico de drogas. O motorista Vanilson Andrade de Siquiera trabalhou com aplicativos de passageiros até março de 2020, mas em julho do ano passado foi preso por tráfico de drogas.

Os parentes dos adolescentes reconhecem que os jovens já haviam sido detidos. Mas pedem respostas e denunciam estar sendo induzidos, pela PMGO, a “esquecerem a história” todas as vezes que procuram a polícia de Goiás.

As mães dizem que “não é o primeiro caso de morte de adolescentes por policiais militares no Entorno do DF”, e que, “infelizmente, também não vai ser o último”.