Qual a importância da conquista da cidade russa de Sudja pela Ucrânia?

Com uma população pré-guerra de 5 mil pessoas, local já fez parte do território ucraniano no passado, e hoje tem importância econômica e estratégica para os dois lados

Placa apontando bifurcação entre Ucrãnia e Rússia nos arredores de Sudja, no território russo de Kursk
Placa apontando bifurcação entre Ucrãnia e Rússia nos arredores de Sudja, no território russo de Kursk

O inesperado avanço das forças ucranianas na região de Kursk, que culminou com o controle de cerca de mil km² de solo russo e, nesta quinta-feira, na captura de Sudja, significou, além de um fracasso militar para o Kremlin, a perda ao menos temporária de uma cidade estratégica em termos energéticos e econômicos, mesmo em tempos de guerra. Já para Kiev, a conquista pode ser um raro trunfo em eventuais negociações diplomáticas com Moscou.

Com pouco mais de cinco mil habitantes antes da guerra, Sudja chegou a fazer parte da então nascente República Socialista Soviética da Ucrânia até 1922, quando, por ordem do Kremlin, foi transferida para a Rússia. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi ocupada pelas forças da Alemanha nazista por dois anos, e hoje, como muitas cidades do interior russo, tem uma estátua de Vladimir Lênin em sua praça central.

Mas ao contrário de dezenas de cidades ucranianas ocupadas pelos russos desde a invasão ordenada pelo presidente, Vladimir Putin, em fevereiro de 2022, Sudja não integra um corredor de transporte crucial, não é essencial para a manutenção de linhas de frente ou tem valor histórico — contudo, ela é considerada crucial para a segurança energética de populações longe das linhas de frente, e até para a segurança nuclear da região.

Pela cidade passa o principal gasoduto que conecta a Rússia aos países da União Europeia através da Ucrânia, a linha Urengoy-Pomary-Ujgorod, e ali fica o último ponto de distribuição antes da fronteira — apesar dos cortes brutais nos envios de gás russo, quase metade do volume exportado aos europeus passou por Sudja, cerca de 14,65 bilhões de m³ em 2023. A principal função da estação é, além de contabilizar quanto gás passa por ali, fazer os controles de qualidade.

Hoje,não há sinais de que a Gazprom, a gigante russa do setor de energia, pretenda interromper o fluxo de gás, e tampouco as forças de Kiev estão propensas a causar danos à instalação.

Mesmo com carteira de clientes mais diversa, a Gazprom ainda recebe alguns bilhões de euros em vendas de gás para a União Europeia, e poderia ter perdas consideráveis caso decida cortar os suprimentos — a empresa reiterou que cumprirá os contratos em vigor, e que está mantendo os envios. Uma pequena queda no fluxo, identificada nos últimos dias, pode estar creditada à menor demanda na Europa, devido ao verão.

— Perder a rota de fornecimento através da Ucrânia para a Eslováquia, República Tcheca e Áustria custaria à Gazprom cerca de € 6 bilhões. A situação se tornaria absolutamente catastrófica: eles teriam que parar a produção, suspender a exploração de poços, o que acarreta perdas econômicas significativas — disse ao site RBC Ucrânia Volodymyr Omelchenko, diretor de programas de energia do centro de estudos Razumkov, de Kiev. — As opções da Rússia são limitadas: ou parar as exportações, perder poços na Sibéria Ocidental e incorrer em custos enormes, ou continuar os suprimentos.

Para os ucranianos, um corte nos suprimentos também é um cenário nada agradável. A começar pela perda da verba paga pela Gazprom pelo trânsito de gás russo pela Ucrânia, em torno de € 1 bilhão por ano, dinheiro que ajuda também na manutenção do sistema.

— Atualmente, o sistema de transporte de gás é mantido com os recursos que recebemos graças ao trânsito. Se o fornecimento de combustível parar, alguém terá de fornecer esse financiamento. Porque em qualquer caso, temos que mantê-lo — disse, em entrevista ao site NV Business, Oleksy Chernyshov, presidente da estatal ucraniana Naftogaz.

Moscou e Kiev têm um acordo que estabelece os termos para o trânsito de gás, firmado em 2019 e que expira no dia 31 de dezembro. Até o momento, os dois países afirmam que não estão negociando uma extensão, mas a pressão dos países da União Europeia, que ainda dependem do produto russo, pode pesar, especialmente sobre Kiev.

Risco nuclear?

Além do gás, a ofensiva ucraniana em Sudja (e em toda a região de Kursk) também acende alertas sobre a segurança de uma central nuclear em Kurchatov, cidade a cerca de 50 km de onde os combates estão acontecendo. Uma subestação de 330 kV liga a usina à região de Belgorod (também sob estado de emergência), e no passado a conectou com a Ucrânia.

Alguns analistas e blogueiros militares levantaram a hipótese das forças de Kiev usarem a cidade como base para uma outra e mais ousada ação: tomar a usina nuclear de Kursk, como “resposta” à ocupação russa da central de Zaporíjia, em solo ucraniano. O governador de Kursk, Andrey Smirnov, chegou a relatar que “dois mísseis” foram abatidos perto da instalação. Mas oficiais ucranianos ouvidos pela revista The Economist foram um pouco menos otimistas, ou talvez mais pragmáticos.

— Sem uma força organizada, você vai repetir os erros que os russos cometeram no Norte de Kiev em 2022. Nós cortamos as linhas deles e eles viraram presas fáceis — disse um militar à revista britânica, se referindo a uma das primeiras operações russas em solo ucraniano, nos primeiros dias da guerra.

Ganhos estratégicos

O grande sucesso da ofensiva em Kursk, até o momento, tem sido quebrar a imagem de que as defesas russas são impenetráveis — desde o início da guerra de trincheiras na Ucrânia, Moscou tem construído linha atrás de linha em áreas ocupadas, mas ao deixar desguarnecidas suas fronteiras, escancara problemas de treinamento e de capacitação das forças apontados por analistas há quase três anos. Em questão de dias, cerca de mil km² de solo russo foram tomados pelos ucranianos, além de uma cidade de importância estratégica.

— Provamos mais uma vez que, em qualquer situação, nós, ucranianos, somos capazes de alcançar os nossos objetivos, capazes de proteger os nossos interesses e a nossa independência. E temos que aproveitar 100% de nossas conquistas. Assim será — disse, na terça-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Veículo militar ucraniano em operação em Sumy, que faz fronteira com a região russa de Kursk — Foto: Roman Pilipey/AFP
Veículo militar ucraniano em operação em Sumy, que faz fronteira com a região russa de Kursk

Kiev tem dito que não quer anexar territórios russos — como Moscou tem feito com seu país desde fevereiro de 2022 —, ao mesmo tempo em que estabelece posições em Kursk, incluindo em Sudja. Na quinta-feira, foi anunciada a criação de um escritório administrativo na cidade, e Zelensky afirmou que é uma forma de fazer com que Putin “sinta” a guerra mais perto de casa.

Caso consiga manter as posições militares, uma tarefa complexa, dadas as dificuldades enfrentadas pelos ucranianos nas linhas de defesa, ele poderia forçar negociações diretas ou indiretas sobre um cessar-fogo com a Rússia. Em julho, o presidente ucraniano disse ser a favor de convidar os russos para uma nova reunião de paz, em novembro — no encontro anterior, em junho, eles não foram convidados. Putin afirma que está disposto a “congelar” o conflito em suas linhas atuais, ou seja, mantendo os territórios anexados, algo que Kiev diz não concordar, ao menos por agora.

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fonte:

O GLOBO

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