Águas Lindas-GO deve abrigar o mais novo aeroporto do Planalto Central

Proposta visa criar um polo de recebimento de cargas, principalmente, fruto de compras do comércio eletrônico, nacional e internacional. Novo terminal também operaria focado na aviação executiva

A uns 40 quilômetros do Aeroporto Internacional de Brasília, o JK, começa a surgir um novo aeródromo. Em Águas Lindas de Goiás, as máquinas já raspam o chão para construir uma pista com 2,2 km de extensão, o que habilita receber aviões de grande porte. O projeto é mais do que um aeroporto, visa construir, em uma área de 500 hectares, uma cidade aeroportuária, com espaço para galpões de armazenamento, estabelecimentos comerciais e até residências. Trata-se de um investimento superior a R$ 100 milhões, todo privado, e há rumores de que o capital chinês possa estar incentivando o projeto.

No eixo Goiânia-Brasília, cerca de 200 km, esse seria o quinto terminal aéreo, o que leva a indagação: há demanda para tanto aeroporto assim? Se for contar as imediações goianas, Caldas Novas também possui um aeródromo, que no ano passado recebeu 600 mil passageiros, quase todos turistas; e outro terminal é estudado para a Chapada dos Veadeiros, também destinado a turistas.

Nos segmentos governamentais e empresariais da aviação, o silêncio é total. A Inframérica, gestora do JK, disse desconhecer o projeto e, por isso, não comentaria. A Terracap, detentora do Aeródromo do Planalto Central (antigo Botelho), localizado no PADF, não respondeu às solicitações de informações. A proposta desse terminal da Terracap é atrair os jatinhos da aviação executiva. A Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) informa que projetos privados de construção de aeroportos independem de previa autorização governamental. O Ministério dos Portos e Aeroportos afirma que ele não consta do no Plano Aeroviário Nacional (PAN), edição de 2024, e que só entraria no planejamento estratégico federal após a avaliação e validação pelas autoridades governamentais.

O Terminal já conta com o Código de Identificação do Aeródromo (Ciad): GO0216. Ele serve para identificá-lo junto à Anac e ao Comando da Aeronáutica para todos os assuntos relacionados ao aeródromo, mas ainda não é o código internacional de aviação, emitido pela Associação Internacional de Transportes Aéreos(IATA). No caso de Brasília, por exemplo, o código é BSB; Guarulhos, GRU, Santos Dumont, STO. Para ser aberto e efetivamente receber aeronaves, ele precisará da anuência do Comando da Aeronáutica (Comaer) quanto ao espaço aéreo.

Viabilidade

Com a denominação inicial de Chiola Fly Club (CFB), o Aeroporto de Águas Lindas foi concebido para receber a aviação executiva, jatinhos que se destinam a Brasília. Diante de um congestionamento aéreo, que resulta numa longa fila de pouso e decolagens no JK – onde os aviões de carreira têm preferência – e das elevadas taxas aeroportuárias cobradas pela Inframérica, ele pretendia ser uma opção mais econômica. Responsável pelo projeto, o advogado Edilson Gomes Chiola, garante que existirá traslado rodoviário seguro e rápido até o centro de Brasília, e até mesmo com o uso de helicópteros.

Com o upgrade para terminal de cargas, se torna economicamente importante a sua inclusão na rede estratégica nacional, mas isso depende de comprovação técnica de viabilidade, integração multimodal e os impactos positivos na conectividade aérea que poderão ser objetos de avaliação futura. Tudo isso, caso o terminal apresente demanda comprovada e relevância logística regional segundo informa o ministério. E é aí que surgem as dúvidas dos especialistas.

Atualmente, os quatro aeródromos citados recebem a aviação e executiva e três deles operam com cargas: Brasília, Goiânia e Anápolis. O volume transportado em 2022 foi, respectivamente, de: 54 mil toneladas (basicamente fármacos, eletrônicos, e-commerce, perecíveis); 21 mil tons (produtos agrícolas, medicamentos, carga expressa); e 8 mil tons (suprimentos para a indústria, autopeças, insumos farmacêuticos). A projeção feita pelo ministério é que até 2030, o aeroporto de Anápolis tenha uma movimentação ampliada em 400%, o de Goiânia, 85%; e o JK em 51%.

É de se ressaltar que, na periferia de Goiânia, em Aparecida, há o Antares Polo Aeronáutico, projeto semelhante ao que se vislumbra para Águas Claras. Especialistas em logística aeroportuária ouvidos pela coluna avaliam que o que define a densidade geográfica de aeroportos é a demanda pelos serviços e não a proximidade dos centros urbanos, entre si. Exemplo é o Estado de São Paulo, que opera com Guarulhos, Viracopos, Congonhas, Campo de Marte, Jundiaí, São José dos Campos e Santos. Se não houver demanda suficiente, atração de novos serviços, a tendência pode ser a canibalização dos terminais. Um aeroporto retirando clientes e cargas de outros. Contudo, alguns especialistas em aviação não acreditam que os grandes hubs públicos venham a ser afetados por um terminal privado.

China

Com o crescimento vertiginoso do comércio via plataformas digitais, nacionais e estrangeiras, e da aproximação dos investidores chineses ao Brasil, o projeto de Águas Lindas ganhou musculatura. Agora, além de se propor a abrigar oficinas de manutenção de aeronaves e escola de pilotos, almeja ser também um terminal de cargas importante para o centro do Brasil. Sua pista permitirá o pouso de aviões do porte do Boeing 737-800 e Airbus A320.

Seus idealizadores afirmam já existir entendimentos para que uma grande empresa chinesa de e-commerce defina sua base de distribuição em Águas Lindas. A ideia é que do principais portões internacionais de cargas, em especial do Aeroporto Viracopos, de Campinas-SP, as cargas internacionais, em especial do e-comércio, destinadas ao Centro-Oeste e ao Sul da Região Norte, sejam encaminhadas para aqui, antes de chegar ao destino final.

Polo industrial

Águas Lindas já celebrou uma parceria com empresários chineses que prometem instalar um polo industrial para produzir triciclos elétricos, do tipo Tuc-Tuc, drones agrícolas, placas fotovoltaicas, tornozeleiras eletrônicas, dentre outros. O projeto do aeroporto de cargas se somaria assim para o recebimento de peças, bem como distribuição dessa produção a outros destinos no Brasil e no Mercosul. Segundo o presidente da Companhia de Desenvolvimento de Águas Lindas de Goiás (Codeal), André Oliveira, o aeroporto de cargas servirá ainda para transportar a produção agrícola da região, em especial frutas e condimentos.

Águas Lindas está num local estratégico em termos de conexão rodoviária. Além da proximidade à Brasília, que é um grande centro consumidor, a cidade possui acesso fácil às BRs 010 (Belém-Brasília), 040 (BRs Brasília-Rio), 060 (DF-Bela Vista-MS, passando por Goiânia); 070 (DF-Cáceres-MT, perto da fronteira com a Bolívia) e 080 (DF- São Miguel do Araguaia-GO). As lideranças locais ainda fazem gestões para que a ferrovia bioceânica, que ligará o Peru ao Sul da Bahia, tenha seu trajeto alterado para passar pela cidade, ou que haja, pelo menos, um ramal ferroviário. A integração multimodal é um fator que pesa positivamente para viabilizar a nova conectividade aérea.

Se vingar, a implantação do polo industrial e do aeroporto em Águas Lindas pode alterar o mapa do desenvolvimento econômico e mesmo da expansão urbana nessa região do Planalto Central. Consolidando-se como polo estratégico para negócios os fluxos migratórios poderão ser fortemente invertidos.

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fonte:

Por Chico Sant’Anna

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