Líderes negros querem troca de promotor branco no caso Brown

Responsável pelo processo é acusado de ter relações com a polícia

Justiça. Manifestante põe a neta deitada numa simbólica linha de vítima morta desenhada no chão, em protesto na Promotoria de Saint Louis - Robert MacPherson/AFP
Manifestante põe a neta deitada numa simbólica linha de vítima morta desenhada no chão, em protesto na Promotoria de Saint Louis –                  Robert MacPherson/AFP

FERGUSON — Um corpo de jurados começou a analisar, ontem, se vai ser aberto processo contra o policial Darren Wilson, acusado de,matar o jovem  negro Michael Brown, de 18 anos, na tarde do penúltimo sábado, 9 de agosto, na cidade de Ferguson, no estado do Missouri. Wilson, que é branco, é acusado de racismo pela população local, majoritariamente negra, o que deflagrou protestos que já duram mais de dez dias. Do lado de fora da Promotoria do condado de Saint Louis, que engloba Ferguson, manifestantes oraram e pediram que o promotor encarregado do caso, Robert McCulloch, renuncie. Líderes negros citam profundas conexões familiares do promotor com a polícia local, o que, segundo eles, questiona a imparcialidade de McCulloch. Também ontem, o procurador-geral dos EUA, Eric Holder, reuniu-se com a família de Michael, moradores de Ferguson e autoridades, e prometeu um processo justo.

Em Saint Louis, dezenas de policiais vigiavam a entrada principal da promotoria. O edifício foi envolto por uma faixa amarela para impedir o acesso não autorizado. O pai, a mãe, o irmão, o tio e o primo de McCullouch trabalham ou trabalharam para o Departamento de Polícia de Saint Louis. E seu pai foi assassinado quando atendia uma ocorrência que envolvia um suspeito negro. McCulloch, que é branco, tem insistido que os antecedentes não vão influir na condução do processo de Darren Wilson. Democrata, ele foi eleito para a promotoria em 1991 e tem reputação de ser duro com o crime. De acordo com o promotor, a decisão não deve ser anunciada antes de meados de outubro. A população pressiona para que Wilson seja acusado formalmente.

Há diferentes relatos sobre a morte de Michael Brown. Segundo a versão das autoridades, ele teria sido abordado na rua e tentado roubar a arma de Wilson ainda dentro do carro de polícia, quando um tiro teria sido disparado. Algumas testemunhas dizem que Michael fugiu, e teria se virado ao ouvir mais tiros. A partir daí, os relatos diferem substancialmente: segundo uns, ele caminhou na direção do policial Wilson, numa atitude ameaçadora, antes de ser morto; outros, como Dorian Johnson, amigo de Michael, afirmam que ele não estava andando e até tinha erguido as mãos para o alto ao receber os tiros. Os resultados da autopsia solicitada pela família mostram que Michael foi atingido por seis tiros, dois deles na cabeça.

Outro negro é morto pela polícia

Durante o dia de ontem, o procurador-geral Eric Holder visitou vários locais de Ferguson, incluindo um colégio da comunidade e um restaurante próximo à rua onde Michael foi morto. Ele conversou com moradores e também se encontrou com autoridades. Na terça-feira, Holder prometeu que a investigação será “completa, imparcial e independente”, mas ressaltou que “levará tempo”.

— Nossa investigação será diferente — afirmou Holder, em entrevista ontem, entre oficiais federais no Missouri, incluindo o agente do FBI a cargo do caso, William Woods, e o procurador federal Rich Callahan.

À noite, Holder se reuniu com os pais de Michael Brown, no escritório da Procuradoria-Geral dos EUA em Saint Louis. Ele prometeu que experientes agentes federais vão investigar independentemente se houve qualquer violação dos direitos civis relacionados à morte do jovem negro.

Na terça-feira, à noite, centenas de manifestantes protestaram perto do local onde Michael foi morto. “Não disparem!”, gritavam eles diante da tropa de choque, com os braços para o alto, gesto adotado como símbolo para o caso. Mas, por volta da meia-noite (hora local), os manifestantes foram dispersados, sem o uso de gás lacrimogêneo.

— Esta noite, assistimos a una dinâmica diferente — declarou o comandante Ron Johnson, destacado da Polícia Rodoviária Estadual para chefiar as tropas locais em Ferguson.

Entretanto, uma hora depois, 47 pessoas foram detidas, após garrafas com urina terem sido lançadas contra a polícia. Johnson informou que foram apreendidas três armas de fogo. Ontem ainda, moradores acusaram a polícia de uso excessivo da força, após dois policiais dispararem e matarem um jovem negro de 23 anos, que portava uma faca, num bairro perto de Ferguson. Ele não teria obedecido às ordens para que se ajoelhasse. E o policial que apontou um fuzil em direção a manifestantes em um dos protestos foi afastado das ruas e suspenso indefinidamente.

(fonte: O GLOBO) com Edição de André Silva

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