Polícia apura causas de fratura em braço de bebê durante parto no DF

A Polícia Civil investiga as circunstâncias que culminaram com a fratura do braço direito de um bebê durante o parto no Distrito Federal. O incidente aconteceu em 30 de abril no Hospital Regional de Planaltina, depois de os médicos fazerem força sobre a barriga da mãe para ele nascer. A criança foi levada ao Instituto Médico Legal nesta sexta-feira (13). A corporação disse que ainda não vai comentar o caso.

Ao G1, a Secretaria de Saúde afirmou que os profissionais não demoraram a notar o problema. Para a TV Globo, disse que eles se preocuparam em examinar o ombro e não perceberam o osso quebrado. “Eu não diria [que houve] falha. Eu diria que são detalhes que às vezes demora um pouquinho para ver”, declarou a superintendente da Regional de Saúde Norte, Andréa Kavamoto.

O caso também é investigado pela pasta e pelo Conselho Regional de Medicina, que quer identificar se houve negligência. O pai, o pintor Cleginaldo Sousa, disse “exigir” um pedido de desculpas da Secretaria de Saúde. Ele também vai acionar a Justiça.

“Ia nas ecografias com a minha mulher e ouvia que meu filho estava perfeito, perfeito. A mãozinha perfeita. Aí meu filho nasce na rede pública e fica quebrado. Como se fosse um objeto, uma peça”, diz. “Quando lembro que o bracinho dele caiu para trás quando fui banhar ele, e ele não fazia chorar, ele gritava, mudava de cor, ficava roxo de dor, fico péssimo. É uma cena que vou guardar para o resto da minha vida.”

De acordo com Sousa, todo o atendimento antes do parto foi ruim. A família chegou à unidade de saúde por volta de 19h do dia anterior, depois de a grávida reclamar de dores. O médico que a examinou afirmou que ela apresentava leve infecção, mas que ainda não estava em trabalho de parto.

O casal voltou para casa, com a filha mais velha, de 16 anos. Ainda na garagem, a adolescente notou que a bolsa da mãe havia estourado. “A gente só entrou no carro de novo e foi embora. Por volta de 3h30 ela entrou em dilatação para valer, só que só levaram para a sala bem mais tarde. O neném só nasceu depois das 10h.”

Sousa diz que viu outras famílias reclamarem e que se assustou com a situação. “O médico subia em cima dela, botava tanta força, a ponto de a maca onde ela estava deitada sair do lugar uns 50 centímetros, 60 centímetros, de lado.”

“Parece que trabalham de má vontade. Eu assisti o parto, foi horrível. Vi criança nascendo fora de hora lá, com afundamento de crânio, rostinho machucado, mães gritando de dor, médicos dizendo ‘na hora de fazer você não estava gritando’. Quando eu assisti o parto da minha esposa, achei que ia perder ela.”

“Chegaram a falar que isso é normal, que neném não mexe tudo assim. Domingo, quando fui dar banho, senti que estava estralando. Ele chorava muito quando eu tocava no braço. Pedi raio X ao pediatra, e ele disse que não precisava, que foi só inflamação de quando nasceu. Insisti, aí viram realmente quebrado, o bracinho já inchado”, lembra.

“Quebraram o braço dele 10h30 de sábado e só resolveram o problema dele domingo à tarde. Foi muito mais de 24 horas depois. Dei uma de doido, invadi a emergência xingando todo mundo logo, apareceu o diretor do hospital e resolveu o problema. Colocaram tala e enfaixaram, porque não podia engessar”, completou o pai.

Bernardo Gomes de Sousa tirou as faixas que imobilizavam o braço direito no início da semana. Em nota, a Secretaria de Saúde disse que o bebê foi encaminhado à ortopedia pediátrica do Base para tratamento. Novo raio X foi feito e apontou que houve correção da fratura.

Situações semelhantes são apontadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como violência obstétrica. Uma pesquisa feita em 34 países e divulgada no ano passado apontou que há casos de maus-tratos, violência física e sexual, discriminação e restrição de acompanhamento no parto.

Mais problemas
O pai afirma que a criança continuou chorando depois da alta médica. No dia 5, a família voltou ao hospital para tentar descobrir o motivo. O casal e a criança foram encaminhados para o Base e depois para o Hospital Regional da Asa Norte. No local, Sousa conta que perdeu a paciência.

“Procurei chefia para reclamar e ignoraram. Até chegou viatura, acredito que foram eles que chamaram. Aí de repente resolveram, viram que era prioridade porque ele era recém-nascido. A medica foi, diz que lesionaram também o rosto do meu filho, do lado direito, na maçã. Ele chorava quando ia mamar. Aí ela deu um remédio e parou. Não deu detalhes, mas disse que ele não precisa operar”, diz.

Em nota, o hospital de Planaltina afirma que não havia sinais de lesão no rosto do bebê. “[Mãe e] seu filho foram atendidos durante todo o procedimento por equipe médica multidisciplinar e receberam toda a assistência da rede.”