Alunos da área rural enfrentam dificuldades para ir à escola no DF

DATA : 16/09/16
FOTO : ANGELO MIGUEL
Sob uma densa cortina de poeira, alunos têm de caminhar por até cinco quilômetros para chegar à escola. A estrada de terra batida dá acesso à única unidade educacional da região do Incra 9, em Ceilândia, onde 718 estudantes ainda enfrentam sol, chuva e lama para receberem educação formal na região rural da capital do país. Há quem, pelas dificuldades, desista de estudar. Também há quem use os obstáculos para buscar por melhorias, como mostra a série os Caminhos da Educação, do Jornal de Brasília.
Os maiores problemas são de infraestrutura. O alambrado que cerca a escola não impede que o tempo atrapalhe as aulas de educação física. A céu aberto, os alunos têm de interromper as atividades por conta da poeira, calor ou chuva que invadem o local. Há um ano, porém, a autorização para a construção da cobertura da quadra de esportes foi publicada no Diário Oficial do DF. Falta verba, diz o governo.
Para chegar à aula, só com sorte ou disposição. Até existem ônibus, mas são coletivos de linha que não passam próximos às chácaras e que dependem do passe livre estudantil – feito pela internet, à qual muitos deles não têm acesso. Os atrasos e faltas são constantes e, depois de cerca de uma hora de caminhada, é difícil manter a atenção na aula. “Qual a condição psicológica da criança estudar depois disso? O mais difícil é a motivação dos alunos”, revela uma professora da unidade. A luta é por ônibus escolares, mas solicitações por ofícios e memorandos não são atendidos.
Transporte
“O nosso grande gargalo é o transporte”, admite Fábio Pereira de Sousa, subsecretário de planejamento, acompanhamento e avaliação da Secretaria de Educação. De acordo com ele, há negociações com o DFTrans, já que a pasta não pode oferecer o passe estudantil a esses alunos. A prometida cobertura da quadra esportiva também está prevista, garante. Já aprovada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a obra aguarda recursos financeiros.
As refeições, servidas nos intervalos das aulas, são feitas em pé: não há refeitório e, às vezes, a comida não é suficiente. Chacareiros costumam doar alimentos para complementar. Ano passado, a escola conquistou o cercamento da área e a iluminação pública com emendas parlamentares. O prédio é feito de alvenaria, mas o número de salas e banheiros não atendem a necessidade da escola.
Ajuda da comunidade
Também em 2015, vendas e eventos garantiram a construção de três salas para manter o Ensino Médio ali. É com ajuda da comunidade que se mantém, reforma e amplia a estrutura da escola para evitar a perda de alunos por falta de espaço. “Se acabasse a modalidade, os alunos iriam para escolas urbanas, mas ao longo dos anos observamos desistências pela distância”, ressalta o diretor Márcio de Oliveira.
Faltam maiores investimentos
Aos 17 anos, um estudante tem na pele as marcas das dificuldades. O rosto queimado pelo sol evidencia o trajeto diário que precisa fazer para frequentar o 9º ano do Ensino Fundamental no CED Incra 9. “Ônibus tem, mas não chega até as escolas. Ficam presos nas garagens do governo”, reclama. “É um dos problemas, mas também falta asfalto, o espaço é pequeno para tantos alunos. Os problemas são muitos e os investimentos, poucos”, emenda.
O estudante entende que é justamente com educação que poderá mudar a história da família. Os pais, que concluíram o 5º ano, são analfabetos funcionais. Ele, pela manhã, trabalha no campo para ajudar em casa. “É bem desmotivador. Tenho muitos colegas que saíram para o crime. Eu já me envolvi com isso, mas me conscientizei. A injustiça e a desigualdade, imensas, são o que desmotivam”, desabafa.
“A escola rural não é tão vista. Muitos nem sabem que existe”, simplificou o diretor Márcio de Oliveira, professor há 18 anos, que enfrenta na unidade problemas similares às outras 77 escolas rurais do DF. “Existe um projeto de reformas desde 2010 para construção de seis salas, do refeitório, aumento da cantina e dos banheiros. Estamos aguardando há seis anos”, revela.