Família do Gama ganha a vida vendendo milho na rodoviária da cidade

Rodoviária do Gama, Setor Central da cidade. Em meio ao vai-e-vem de ônibus coletivos e seus respectivos passageiros, quatro vendedores de milho, próximos um do outro, chamam a atenção. O que, a princípio, parece ser uma concorrência descarada, na verdade, é o sustento de uma família.
Os vendedores em questão são da família Lira, moradores da quadra 50 do Gama Leste. Seu José, o patriarca de 73 anos, criou sete filhos através da venda do milho. Ele não é muito de conversar. Limitou-se a dizer seu nome e que vende no local há 39 anos. A família é natural de Marcelino Vieira, cidade do interior do Rio Grande Norte distante 400 km de Natal.
Para conhecermos mais sobre eles, conversamos com seus três filhos que lhe fazem companhia diariamente. Os outros quatro seguiram rumos diferentes na vida. Um trabalha com gesso, outra é auxiliar de serviços gerais, o terceiro trabalha colhendo o milho que eles comercializam e a mais nova está desempregada.
Rosicleide Lira é uma das vendedoras no local. Chegou ao DF com onze anos de idade junto com seus irmãos, também crianças. O pai que já estava no DF – e havia mandado buscar a família posteriormente – trabalhou na limpeza de um hospital, na Caesb, antes de se dedicar ao comércio do milho.
Ela trabalhou na Polícia Federal aos 14 anos como estagiária e, após, passou a ocupar o cargo de digitadora. Ficou como terceirizada na instituição por 20 anos até ser desligada da função. Passou a vender na rodoviária há três anos após separar-se do marido.
“Aqui [Rodoviária do Gama] é um ótimo lugar. Essa entradinha aqui é o melhor lugar pra se vender o milho”, explica Rosicleide. Ela diz que já conquistou uma clientela fixa. “Eu tenho um cliente que é vigilante lá no cine Itapuã. Toda vez que ele está de plantão ele compra milho”, exemplifica.
Enquanto Rosicleide falava sobre o homem, ele coincidentemente aparecia. Ele é Leonardo Mota, morador de Valparaíso. Ele faz o trajeto há um ano e diz que gosta do milho e da forma como é tratado pela vendedora. “É para lanchar no serviço. Compro milho, pipoca, frutas”, diz ele.
A mais velha dos irmãos é Josilene. Ela tem 50 anos e trabalha há 18 na Rodoviária. Ela é mãe de um filho de 31 anos. “Tudo que eu tenho foi comprado com o dinheiro do milho”, resume ela. “Meu pai tem duas casas, dois carros, deu um carro para o filho, tudo com o dinheiro daqui”, prossegue.
Ela diz que trabalhou há 12 anos como recepcionista de um hotel em São Paulo. Ao final desse período, ela diz que não levou nada. E ela enumera as vantagens da venda de milho: “a gente trabalha pra si, ganha mais, tem nossos horários”, afirma.
E completando o quarteto, temos Reginaldo Lira. O homem de 41 anos trabalha na rodoviária pelo mesmo período que a irmã mais velha. Os dois passaram uma temporada em São Paulo, mas regressaram ao DF para ficar mais perto da família e se dedicam ao milho. Reginaldo é casado e tem um filho de 17 anos.
“Escolhi vender milho para seguir os passos do meu pai e porque é um produto bom de vender”, explica Reginaldo. E ele diz as vantagens do Gama: “Aqui a gente faz amizade. Tem uns clientes mais enjoadinhos, igual a todo lugar, mas aqui é bom demais”, explica.



Além do Gama, a família vende milho em outros locais, nas festas de cidades próximas no DF e Entorno.
