Autonomia é um direito da mulher

“É unânime que a escalada de crimes contra as mulheres precisa ter um freio”

Ultimamente, a violência contra a mulher tem atingido níveis assustadores. São inúmeros os casos noticiados de assédio, estupro e feminicídio – quando a vítima morre em razão da condição de ser mulher.

Segundo a última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (PDAD), realizada pela Codeplan em 2018, 52,2% dos 2.894.953 habitantes do DF são mulheres. É unânime que a escalada de crimes contra as mulheres precisa ter um freio.

Para a secretária da Mulher, Éricka Filippelli, um dos caminhos para reduzir esses índices crescentes é garantir autonomia para as mulheres. ”Até pouco tempo atrás, as mulheres não trabalhavam, não votavam e isso vem mudando ao longo dos anos”, argumenta Ericka. “A mulher que não tem autonomia econômica, ela não tem poder de escolha”, reitera.

A secretária segue dizendo que a autonomia, em especial a financeira, é um direito garantido até pela Constituição. ”Não quer dizer que as mulheres precisam ser autônomas [financeiramente] apenas para não viverem situações de violência, na verdade é uma garantia constitucional”, defende.

E ela tem um posicionamento firme: “Eu acho que a sociedade ideal é aquela em que homens e mulheres trabalhem juntos, lado a lado, reconhecendo o papel de cada um”, pontua.

Para garantir essa autonomia financeira das mulheres, Ericka cita algumas ações da pasta durante esses nove meses. “Lançamos o espaço ‘Empreende Mais Mulher’, a gente fez a parceria com a rede Mulher Empreendedora e trouxe o ‘Ela Pode’ para cá”.

Segundo Ericka, o objetivo é “inverter a lógica do acolhimento à mulher em situação de violência”. “Ao invés da gente apenas acolher e dar um atendimento, a gente vai oferecer pra ela os planos de negócio para ela, as ações. Então, o que ela pode fazer”, relata a secretária.

O SENAC, de acordo com a secretária, fechou uma parceria e está no espaço oferecendo cursos de capacitação. “A primeira turma de agentes administrativas já está formada”, revela.

Contudo, Ericka ressalta que apenas garantir essa independência não vai acabar com as situações de violência. “Nós vivemos numa sociedade muito machista. O que precisa acontecer é a conscientização e eu acredito que isso é possível”, comenta.

Política

Ericka é nora do ex-vice-governador do Distrito Federal Tadeu Filippelli. Ericka é casada há 16 anos com Roberto Filippelli, filho do político. Tadeu ainda é uma figura importante no cenário político local. Ela diz que a família foi uma grande referência na sua caminhada política, ajudando-a a “se descobrir como pessoa”.

“A forma de atuar partidariamente, na composição dos grupos, de conhecer as lideranças, tudo isso aprendi com ele. A forma de fazer política, com respeito, responsabilidade, aprendi no MDB”

Ela prossegue: “Com certeza o fato de estar dentro de uma família de políticos despertou em mim algo no meu coração, que é essa vontade de ajudar, de trabalhar para os outros, de servir”, resume.

De acordo com a secretária, “sua missão’ é ajudar mulheres”, “Para exercer a presidência [do MDB Mulher], eu fui conhecer as comunidades, a realidade das mulheres”, comenta Ericka. À frente deste setor do partido, criou um programa chamado “Mulher em Ação”, cuja ideia dele era levar capacitação às mulheres das comunidades. A ideia foi expandida para o MDB Nacional.

Em 2014, em virtude do sogro ocupar o cargo de vice-governador, Ericka não podia concorrer às eleições. Contudo, em 2018, ela lançou sua candidatura à Câmara Legislativa. No pleito, conseguiu 4.285 votos, não se elegendo deputada distrital.

Segundo Ericka, o resultado não foi o esperado, mas a experiência foi “muito gratificante”. Questionada sobre por que as mulheres não ocupam a política, ela diz que é o resultado de uma construção cultural.

“Nós não ocupamos os espaços de poder e decisão”, aponta. Mas, isso não se resume aos cargos eletivos. “Nós também não estamos nas diretorias e presidências das empresas privadas”, pondera.

Ericka faz uma ressalva: “Quando dizemos que queremos as mulheres no poder, não quer dizer que não queremos os homens também”, ressalta, ao defender espaços igualitários para ambos os sexos.

Serviços

Ericka diz que o poder público deve incentivar as denúncias. “Sem a denúncia, o poder público não tem como agir”. Se vive uma situação de violência ou sabe de alguém que esteja sofrendo, não deixe de procurar ajuda. As denúncias podem ser feitas pelo 197. Não é preciso se identificar.

Dentro do Ministério Público existe o Núcleo de Atendimento à Família e Autores de Violência Doméstica (NAFAVD). No Gama, o telefone é o (61) 3384-7469.