Agiotas do PIX extorquem e ameaçam devedores: “Arrancar sua cabeça”

Com a facilidade da contratação de empréstimos ilegais on-line, agiotas têm expandido a atuação em diversas regiões brasileiras. Os criminosos usam as redes sociais para atrair vítimas, transferem quantias por meio do PIX e, em caso de atraso ou inadimplência, passam a aterrorizar as famílias. A atuação da rede conhecida como “agiotas do PIX” é alvo constante de operações policiais.
Sargento da PM agiota ameaçava vítimas: “Dá o c*, mas vai pagar”
No Distrito Federal, existem casos em que pessoas foram ameaçadas e extorquidas após entrarem em contato com esse grupo. Algumas das vítimas, apesar de trabalharem no serviço público, estão com a condição financeira comprometida em razão de uma série de empréstimos que acabaram se tornando uma bola de neve.PUBLICIDADE
A advogada Sofia Coelho, especialista em direito público e do consumidor e sócia de Daniel Gerber Advogados, relatou que as ameaças aos clientes são constantes. “São pessoas que estão fragilizadas tanto emocional quanto financeiramente e acabam se envolvendo com agiotas que mantêm perfis em redes sociais e prometem transferir dinheiro instantaneamente”, explicou.
Veja como os agiotas anunciam os serviços nas redes sociais:

Agiotas do PixReprodução

Agiotas anunciam serviços nas redes sociaisReprodução

Casos são investigados pela políciaReprodução
Vítimas são extorquidas e ameaçadasReprodução
Agiotas agem em todo o paísReprodução
Transferências são feitas via PixReprodução
Agiotas usam as redes sociasReprodução
Empréstimos são feitos mediante juros exorbitantesReprodução
Anúncio na internetReprodução
Agiotas do PixReprodução
Agiotas anunciam serviços nas redes sociaisReprodução1
De acordo com a defensora, uma de suas clientes recebeu ameaças graves, por telefone. “Geralmente esses autores dizem conhecer toda a família da vítima, sabem onde seus filhos estudam e, com medo, [a vítima] acaba não registrando ocorrência policial, por também saber que agiu irregularmente ao pedir empréstimo a um agiota”, disse.
Para a criminalista Clara Cid, do Bidino & Tórtima Advogados, há pelo menos três tipos de problemas com a prática do empréstimo informal por meio do PIX. “O primeiro e a mais claro deles é que essa prática pode constituir crime, caso haja cobrança de juros superior à taxa permitida por lei. O segundo decorre do meio pelo qual esses empréstimos são operacionalizados, uma vez que a informalidade e ausência de controle acerca dessas transações podem facilitar a prática do crime de usura ou, ainda, de receptação, caso esses valores tenham origem ilícita. Por fim, dada a ausência de controle na concessão do crédito, há considerável risco de inadimplemento, situação na qual cogita-se que a cobrança dessas dívidas possa ser feita por meios informais e até criminosos”, alerta.
Casos
Ediana de Sousa da Silva, 34 anos, procurou a polícia para denunciar um golpe do qual foi vítima, praticado por Jhonatas Stalone dos Anjos Maia, nome usado pelo acusado. Ele se apresentava como agiota e ofereceu empréstimo de R$ 10 mil em troca de uma garantia no valor de R$ 200.conteudo patrocinado00:15
A quantia do suposto “sinal” foi transferida pela vítima via PIX, mas, após o depósito, o golpista alegou que Ediana ainda precisaria pagar uma taxa referente ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), no valor de R$ 170, do qual ela não dispunha.
Já uma mulher de 28 anos procurou a Polícia Civil para registrar ocorrência de extorsão. Ela diz ter entrado em contato com um agiota pelo Facebook, solicitando o valor de R$ 500 emprestado. O criminoso aceitou, desde que ela retornasse o dinheiro no total de R$ 950. A vítima não conseguiu pagar a dívida e, em 13 de setembro, recebeu um telefonema do indivíduo com ameaças e exigindo R$ 6 mil. Ele dizia que, caso tomasse o calote, iria “arrancar a cabeça” da mulher.
A dívida deveria ser paga no último dia 17 de setembro. Desesperada, dois dias antes, ela realizou um PIX de R$ 1 mil para o agiota, mas ele telefonou exigindo o restante da quantia. A mulher registrou ocorrência e encaminhou as informações para a polícia.
Escritórios de extorsão
Em setembro deste ano, a Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou a Operação Ábaco, para atuar contra a maior rede de agiotas do estado. A partir da Cidade Maravilhosa, a quadrilha se espalhou pelo país e abriu 70 escritórios de extorsão em pelo menos mais quatro estados: Ceará, Santa Catarina, Espírito Santo e Minas Gerais.
Outro esquema milionário de agiotagem, extorsão e lavagem de dinheiro capitaneado por um sargento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e seu irmão foi desmantelado durante operação deflagrada em novembro pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Equipes da Divisão de Roubos e Furtos (DRF) cumpriram 15 mandados de busca e sete de prisão temporária em Vicente Pires, Taguatinga e São Paulo.
Apontado como um dos chefes da quadrilha de agiotas que movimentou mais de R$ 8 milhões nos últimos dois anos, o sargento Ronie Peter Fernandes da Silva coleciona ocorrências relacionadas à prática ilegal de movimentação financeira. Ameaça, lesão corporal, perturbação da tranquilidade, crimes contra a economia popular e Lei Maria da Penha são alguns dos delitos destacados nos documentos.
