Rebeldes sírios sitiam sede de grupo jihadista vinculado à Al-Qaeda

Damasco – O quartel-general dos jihadistas do Estado Islâmico no Iraque e Levante (EIIL) em Raqa, bastião deste grupo vinculado à Al-Qaeda, foi cercado nesta segunda-feira (6/1) pelos rebeldes sírios, que lançaram uma ofensiva generalizada contra os extremistas. Esta nova frente de combate inédita, opondo o EIIL aos rebeldes, até pouco tempo aliados na luta contra o regime sírio, começou na sexta-feira, menos de duas semanas antes da conferência de paz, prevista para 22 de janeiro na Suíça.

A oposição síria, que acaba de reeleger seu líder Ahmad Jarba, deve discutir nesta segunda-feira sua eventual participação nesta conferência, destinada a encontrar uma solução política para a guerra, que já provocou a morte de mais de 130 mil pessoas em quase três anos, segundo uma ONG.

Raqa, a única capital provincial que não caiu nas mãos do regime do presidente Bashar al-Assad desde a explosão da revolta, é o principal bastião do EIIL no país. “Os rebeldes sitiaram a sede do EIIL na cidade de Raqa desde ontem (domingo) à noite. Libertaram 50 prisioneiros sírios detidos pelo EIIL em outro edifício”, declarou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). “Os prisioneiros eram rebeldes e militantes capturados pelo EIIL”, explicou à AFP Rami Abdel Rahmane, diretor do OSDH.
Os jornalistas estrangeiros e o padre jesuíta Paolo Dall’Oglio sequestrados pelo EIIL estão entre os libertados, segundo o OSDH. Desde a tomada de Raqa pelos jihadistas, em março de 2013, os ativistas acusam o EIIL de promover o terror, praticando assassinatos e sequestros. Centenas de militantes, rebeldes e civis foram detidos na cidade, de acordo com o OSDH. Esses abusos, incluindo o recente assassinato de um médico rebelde muito popular, levaram várias coalizões de insurgentes a combaterem o EIIL, principalmente nas províncias de Aleppo (norte), Idleb (noroeste) e Raqa.

Os insurgentes também criticam as ambições hegemônicas do EIIL em territórios rebeldes, onde o grupo é acusado de decapitações de líderes, sequestros de ativistas pacíficos, jornalistas e rebeldes, mas também de impor à força a sua interpretação extrema do Islã. As principais coalizões rebeldes em combate são a poderosa Frente Islâmica, o Exército dos Mujahedines (islamita) e a Frente Revolucionária Síria (“moderada”, não-islâmica).

Oposição estará na Suíça?

Outro grupo jihadista, a Frente al-Nusra -o braço oficial da Al-Qaeda na Síria- também se juntou à batalha, especialmente em Raqa, onde rivalizou durante meses com o EIIL, de acordo com ativistas e rebeldes.

Os membros da Al-Nusra participaram em massa do cerco à sede do EIIL em Raqa, segundo Abdel Rahman. Este grupo, considerado pelos Estados Unidos como uma organização terrorista, é formado principalmente por sírios, enquanto o EIIL tem muitos jihadistas estrangeiros em suas fileiras. A Al-Nusra também é considerada menos radical do que o seu rival, apesar de sua afiliação com a Al-Qaeda. Em junho de 2013, membros do EIIL mataram um menino de 15 anos de idade depois de acusá-lo de blasfêmia na cidade de Aleppo, causando um tumulto.

Desde sexta-feira, os combates nesta nova frente deixaram dezenas de mortos de ambos os lados, particularmente nas províncias de Aleppo e Idleb. Sinal das ramificações do conflito sírio nos países vizinhos, o EIIL assumiu o controle na última semana da cidade iraquiana de Falluja e reivindicou um atentado suicida no Líbano contra um reduto do Hezbollah, o grupo xiita que luta ao lado do regime sírio.

A menos de duas semanas da conferência de paz chamada “Genebra 2”, a coalizão da oposição deve decidir nas próximas horas sobre a sua participação. O principal grupo da coalizão, o Conselho Nacional Sírio (CNA), já anunciou o boicote à conferência por falta de uma garantida da saída do presidente Assad.

Em Istambul, onde a coalizão realiza suas reuniões, a oposição reelegeu no domingo para um segundo mandato como seu líder Ahmad Jarba, que é ligado a Arábia Saudita, um dos principais apoiadores da rebelião. Este último venceu Riad Hijab, o ex-primeiro-ministro do regime sírio que desertou em agosto e foi apresentado como o homem do Qatar, rival de Riyad entre os patrocinadores da oposição. (FP)

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