Mãe não sabe se corpo enterrado é de filho vítima de desabamento no Rio
Renata Soares
Do G1 Rio
Mulher diz que recebeu dois laudos diferentes para o corpo do filho.
Familiares fizeram protesto e missa um ano após acidente.
Apesar de ter enterrado um corpo após o desabamento de três edifícios no Centro do Rio, a mãe do analista de sistemas Bruno Charles, que tinha 25 anos na época do acidente, diz que as coisas ainda não foram esclarecidas. O desabamento, que completa um ano nesta sexta-feira (25), deixou 17 mortos e cinco desaparecidos. Parentes e amigos das vítimas fizeram um ato nesta manhã no local do desabamento do Edifício Liberdade, que foi abaixo levando outros dois prédios.
De acordo com a vendedora Vera Lúcia Evangelista, de 60 anos, um corpo chegou a ser enterrado, mas ela não tem certeza se é do filho. “Eu não fiz o reconhecimento do corpo do meu filho. Me deram dois laudos diferentes. Mas como um corpo tem dois relatórios distintos? Eu preciso de uma resposta e estou em busca da verdade”, disse a vendedora, explicando que nos laudos há divergências de dados como cor de cabelo, cor da pele e estado do cadáver. Verá Lúcia disse que vai entrar com pedido na Justiça para fazer a exumação do corpo que foi sepultado como sendo o do seu filho.
Vera Lúcia e parentes de outras vítimas fizeram um protesto nesta manhã em frente ao local onde ficavam os prédios. Às 11h, parentes e amigos participavam de uma missa na igreja São José, na Avenida Primeiro de Março, no Centro, em memória das vítimas.
Procurada pelo G1, a assessoria da Polícia Civil, que responde pelo Instituto Médico Legal (IML), informou que segundo informações do diretor do Departamento Geral de Polícia Técnico Científica (DGPTC), Sérgio Henriques, dois laudos foram entregues à família de Bruno Gitahy Charles, um em janeiro de 2012 e outro em fevereiro do mesmo ano. O primeiro apresentou o resultado da necropsia e o segundo ratificou a necropsia e apresentou a identificação da vítima por exame de DNA.
De acordo com o laudo, “o exame de DNA foi executado por ser o único meio de identificação da vítima. Exames de impressão digital ou de arcada dentária seriam inviáveis, pois o corpo só possuía tronco, membros inferiores e parte do braço esquerdo. A cor de Bruno Gitahy foi declarada como ignorada. A cor enegrecida citada no laudo se deve ao estado de putrefação da vítima. Convém frisar que a família só pôde solicitar a certidão de óbito com o nome completo da vítima junto ao juiz e ao cartório, por possuir o resultado do laudo de identificação”, informou a nota da Polícia Civil.
Os familiares do professor de informática Omar Lacerda, dizem que, apesar de ter sido realizado exame de DNA para identificar o cadáver, conseguiram sepultar apenas parte do corpo. “Ainda dói muito. Espero justiça e ainda por uma resposta. É um sentimento de angústia, de tristeza, de não ter sido completada essa etapa”, diz Sanara Lacerda, de 20 anos, filha de Omar. Para a viúva do professor, outros responsáveis precisam ser indiciados. “Quero que isso se resolva o mais rápido. O sindico o prédio faleceu, mas outros responsáveis têm que ser indiciados”, disse Marinez Lacerda, de 50 anos.
Entre as 22 vítimas, há cinco que não foram encontradas até hoje. Para a veterinária Michele Barbosa, de 34 anos, a falta de resposta é o maior motivo de angústia. O marido dela, Marcelo Rebelo, participava de um curso de analista de sistema no momento que os edifícios desmoronaram. “Eu preciso de uma resposta. Quero saber onde esta o corpo do meu marido. O corpo do Marcelo e dos outros desaparecidos estão em algum lugar. Só não sabemos ainda”, disse.
Seis pessoas foram indiciadas por desabamento
O Ministério Público Estadual denunciou na quinta-feira (24) seis pessoas pelo desabamento do Edifício Liberdade que acabou levando junto mais dois prédios localizados na Avenida Treze de maio, no Centro do Rio de Janeiro. O MP denunciou Sérgio Alves de Oliveira, presidente da T.O., e a funcionária administrativa da empresa, Cristiane do Carmo Azevedo. A T.O. fazia uma reforma no nono andar do Edifício Liberdade e para o MP estadual os dois agiram com imprudência por realizarem as obras sem qualquer análise técnica e sem qualquer autorização da prefeitura.
Também foram denunciados quatro pedreiros que trabalhavam no andar. Para o MP, Gilberto Figueiredo da Castilho Neto, Andre Moraes da Silva, Wanderley Muniz da Silva e Alexandro da Silva Fonseca Santos foram imprudentes por fazer as intervenções no prédio sem conhecimento suficiente nem a supervisão de um arquiteto ou engenheiro. Os seis foram denunciados por causar desabamento.
O síndico do edifício Liberdade, Paulo Renha, também havia sido denunciado, mas morreu na véspera de completar um ano da queda dos três prédios.
Fonte: g1.globo.com