Vereador encrencado
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) divulgou um vídeo que, segundo promotores, mostra o vereador Paulo Borges (PMDB) acertando recebimento de propina do consultor ambiental Afonso Antunes, em um shopping de Goiânia, no dia 3 de janeiro.
As imagens são de câmeras do circuito interno de segurança do centro comercial. Os dois estariam envolvidos em um esquema de corrupção na Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma). O político foi preso na sexta-feira (15) durante desdobramento da Operação Jeitinho, deflagrada em 11 de janeiro pelo Ministério Público de Goiás,com apoio da Polícia Militar. O empresário tinha sido detido nesta primeira etapa da ação, mas já está solto.
Paulo Borges afirmou que não conhece os fatos e que não sabe o que está acontecendo. “Estou indignado, o que posso dizer é isso, estou totalmente surpreso”, ressaltou o parlamentar. Ele foi interrogado por promotores por cerca de duas horas na tarde sexta. No início da noite, o político foi transferido para o Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana. Conforme o mandado de prisão, o vereador deve ficar preso por cinco dias.
Segundo o advogado de Paulo Borges, Marcelo Di Rezende, o político não tem relação com os fatos investigados pelo Ministério Público de Goiás. “Prenderam meu cliente com base em um depoimento e de vídeo que não prova nada. Esse vídeo tem menos de dois minutos e não tem áudio. Ninguém sabe o que foi conversado”, ponderou o advogado.
Desdobramento
O MP-GO informou, em nota, que as novas diligências foram definidas a partir do aprofundamento das investigações, que apontaram a existência de outros envolvidos no esquema de corrupção. Participaram da ação de sexta-feira policiais militares e cinco promotores de Justiça, servidores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e do Centro de Segurança Institucional e Inteligência (CSI) do MP-GO.
No desdobramento da ação, foram cumpridos os mandados de prisão contra o vereador Paulo Borges (PMDB) e o ex-diretor do Departamento do Contencioso Fiscal da Amma Ivan Gouveia Filho. O vereador Wellington Peixoto (PMDB) e o diretor de Licenciamento e Qualidade Ambiental da Amma, Airton Rossi, foram conduzidos coercitivamente para prestar esclarecimentos. Além disso, foram apreendidos computadores, celulares e documentos.
Depoimento
O vereador Wellington Peixoto (PMDB) também foi encaminhado ao Ministério Público de Goiás para prestar esclarecimentos na sexta-feira, já que foi expedido contra ele um mandado de condução coercitiva.
Wellington Peixoto, que é proprietário de postos de combustível na capital, disse ao G1, que, durante um processo de reforma em um de seus estabelecimentos, contratou um ex-servidor da Amma para prestar serviços de assessoria ambiental. “É um profissional conhecido no mercado. Contratei ele para fazer análise de solo, da água e para acompanhar o meu processo na agência. Não tinha conhecimento de envolvimento dele em nenhuma irregularidade”, disse o vereador.
Em uma das escutas telefônicas interceptadas pelo MP-GO, Wellignton pede ao ex-servidor para apressar a liberação do processo para reabrir o posto em reforma. “Lá na Amma o processo é burocrático e muito demorado. Teve uma licença minha que demorou tanto ser liberada que quando eu a recebi já estava vencida. Tem que ficar em cima para cobrar, e não é ilegal pedir agilidade”, argumentou.
Operação Jeitinho
A Operação Jeitinho teve como objetivo desmontar esquema de cobrança de propina para a venda de “facilidades” no serviço público, como licenciamento ambiental e embargos irregulares de empreendimentos. Em janeiro, foram cumpridos quatro mandados de prisão preventiva, dois de condução coercitiva e cinco mandados de busca e apreensão, inclusive na sede da Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia. Três dos presos eram servidores do órgão público municipal.
A operação recebeu este nome porque um dos envolvidos foi flagrado dizendo que “tudo no Brasil tem jeitinho”, referindo-se ao pagamento de propinas. Segundo a investigação do Ministério Público, há indícios dos crimes de formação de quadrilha, corrupção, tráfico de influência e concussão – exigir vantagem em decorrência do cargo exercido.