‘Está difícil de entender’, diz Gilberto Carvalho sobre manifestações
O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, afirmou nesta terça-feira (18) que busca compreender os protestos organizados pelo país na segunda e que, no momento, ainda não tem uma “resposta”. Carvalho participou de uma sessão da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado.
“De fato, está difícil entender. Nós somos acostumados com mobilização com carro de som, com organização, com gente com quem negociar e liderança com quem negociar e poder fazer um tipo de acordo. Agora eles mesmo dizem ‘nós não temos uma liderança, são múltiplas lideranças, nós não temos carro de som’. Não tem um comando, um comando único, e portanto se torna extremamente complexo o processo de compreensão, de entendimento, da multiplicidade das manifestações internas”, afirmou o ministro.
“Seria muita pretensão achar que a gente compreende já o que está acontecendo. A primeira atitude de humildade é buscar entender a complexidade do que está ocorrendo”, completou.
Para Carvalho, o fato de tantas pessoas terem aderido aos protestos em diversas cidades mostra que há uma “base material de descontentamento”.
“Do ponto de vista do conteúdo [das manifestações] nós que estamos em funções de Parlamento e Executivo temos que estar atentos para entende o porquê de uma adesão tão ampla e massiva. Se há essa adesão, há uma base material de descontentamento, há uma base material que se expressa neste momento.”
Carvalho ainda manifestou apoio pelo fato de as polícias militares no DF e em São Paulo não terem usado balas de borracha nas manifestações desta segunda. “O comportamento da PM em São Paulo ontem foi exemplar e adequado até o final. Aqui em Brasília aconteceu a mesma coisa. Houve um problema no sábado. Nós detectamos que houve uso da balas de borracha, que a nosso juízo não era necessário, e ontem todo processo foi de maneira adequada”, disse o ministro lembrando da manifestação antes do jogo da seleção brasileira no sábado, quando a PM do DF dispersou os manifestantes fazendo uso de balas de borracha.
Reivindicações
Carvalho disse também que tem conversado com algum dos manifestantes e reconheceu que o transporte coletivo, um dos pontos reclamados nos protestos, necessita de melhoria. Ele afirmou ainda que o governo deve estar atento à questão da Copa do Mundo, já que muitos manifestantes defendem que o dinheiro usado para o torneio deveria ser investido em outras áreas do país.
“Na questão da mobilidade urbana nós realmente temos problema. A frota de ônibus de São Paulo é mais ou menos a mesma de 7, 8 anos atrás, com número muito maior de passageiros. Temos um problema grave no transporte aqui em Brasília. A questão da Copa. Nós temos que estar atentos. Os jovens me jogavam na cara ontem: ‘O Mané garrincha fica a 2km do Hran, um hospital aqui em Brasília. No Mané vocês gastaram R$ 1 bilhão e o Hran está cheio de problema.’ ”
Para o ministro, quem “se fechar” para o movimento dos protestos e para as reivindicações que estão sendo feitas vai andar na “contramão da História”.
“Então se a gente não for sensível, se a gente se fechar a esse tipo de reivindiciação, nós vamos na contramão da História. Temos que estar sensíveis, temos que acompanhar, tentar entender e abrir canais de conversa, mesmo que mais complexos, mais difíceis, porque, insisto, são múltilplas expressões.”
Novidade importante
Gilberto Carvalho classificou os prostestos como uma “novidade importante” na sociedade brasileira. Ele ressaltou que é preciso ter os “ouvidos abertos para o grito que vem das ruas”.
“Eu acho que houve surpresa de todos nós da sociedade brasileira. E nós de um lado saudamos como absolutamente uma novidade importante paro país essa disposição de participação, essa disposição de de querer influir de alguma nos destinos do país e das cidades. Saudamos com muito entusiasmo. Ao mesmo tempo, evidentemente que nos preocupa ter os ouvidos abertos para o grito que vem das ruas e sabermos interpretar o que significa essas manifestações. Sem dúvida nenhuma é muito positivo quando a sociedade participa, quer se manifestar. Essa é a nossa tradição, nós construimos um projeto político baseado na participação.“
Para o ministro, no entanto, as manifestações devem observar limites. “No final, seja em Brasília, seja em São Paulo, seja no Rio, um grupo menor, radicalizado, usou métodos de violência. Aqui tivemos por um instante da invasão do Congresso, que seria absolutamente inadequado, e aí sim nós, em contato com o governo, dissemos não, aí o limite. Não se entra no Congresso Nacional, não se impede a entrada de torcedores no estádio, não se pode permitir que a Assembleia do Rio de Janeiro seja ocupada”, afirmou.