História de merendeiras do Gama emociona deputado
Por ter inalado gás de cozinha que escapava do fogão industrial onde trabalhava, no CAIC do Gama, por quase três anos seguidos, a cozinheira Patrícia Rocha, 33, e mais três merendeiras, apresenta sérios problemas respiratórios, como redução da capacidade pulmonar, asma, crises de tosse seca, que afetam os brônquios e a fazem quase perder a respiração e desmaiar. Patrícia garante que antes da absorção do gás de cozinha ela tinha a saúde perfeita. “Nunca tive nada, nenhum tipo de alergia e agora vivo à base de muitos remédios e bombinha para viver”, afirma.
Emocionado com a situação da merendeira e das outras três, que estão em situação semelhante, e irritado com o que define como negligência por parte dos responsáveis, o deputado Chico Vigilante (PT) levou a cozinheira para registrar denúncia na Procuradoria Regional do Trabalho, na tarde dessa segunda-feira (18). Segundo a cozinheira, quando percebeu o vazamento do gás, desde que começou a trabalhar no local, em fevereiro de 2011, avisou ao diretor da escola, ao da regional de ensino e aos responsáveis pela empresa G e E Eventos, para a qual trabalha, mas ninguém tomou providência alguma.
“De um ano para cá, eu comecei a sentir sérios problemas. Eu e as outras merendeiras que trabalham lá. Quando a gente reclamava, eles riam da gente dizendo que nós estávamos com problemas psicológicos”, relata com a voz afônica, também prejudicada pela inalação contínua do gás de cozinha. E completa afirmando que ela acabou desencadeando distúrbios comportamentais de somatização mesmo. À noite, sonhava que estava morrendo sem conseguir respirar e acordava desesperada. “Comecei a fazer terapia com uma psicóloga, mas precisei parar por que mudei o horário de trabalho”, diz. A merendeira foi transferida pela empresa para outra escola, contudo as outras merendeiras continuam trabalhando no CAIC.
O deputado Chico Vigilante soube do caso no mês de outubro deste ano, na sua página no facebook. Imediatamente entrou em contato com a merendeira para tomar conhecimento de toda a história e em seguida ligou para a Secretaria de Educação pedindo imediatas providências contra a empresa e os dois diretores. O deputado comenta que a G e E conseguiu o contrato para prestação de serviços mediante liminar judicial já que não reúne condições para fornecer esse tipo de serviço. “Essa empresa era Buffet e nem funcionário tinha”, critica.
Mais de um mês passado sem providências sobe o assunto tendo sido tomadas por nenhuma das partes responsáveis, o deputado levou Patrícia até o gabinete do procurador Regional do Trabalho Adélio Justino Lucas para oficializar a denúncia. Depois de ouvir o relato da cozinheira e analisar atentamente a papelada levada por ela, com cinco laudos atestando os problemas desencadeados pela inalação do gás de cozinha, o procurador encaminhou Patrícia para formalizar a denúncia.
De acordo com ele, a formalização da denúncia se faz necessária no que diz respeito à gravidade do meio ambiente de trabalho exposta por ela, tendo em vista “que ela alega prejuízos à sua saúde bem como das colegas de trabalho, que continuam no local onde ela diz que o gás era inalado e ninguém tomava providência”, explicou.
Conforme Adélio Justino Lucas, a denúncia será distribuída para ser conduzida por um dos procuradores vinculados à atividade de meio ambiente de trabalho. “Depois de analisar o testemunho dela e a papelada anexada, o procurador designado tomará providências”, informou. Uma delas é a realização imediata de diligência para vistoria no local, ou seja, no CAIC do Gama.
Constrangimento e demissão- Segundo Patrícia, ela e as amigas estão sendo constrangidas a pedirem demissão do trabalho. “Outro dia, me disseram que eles não vão mais pagar a medicação que eu estou usando, que estou saindo muito cara”, relatou.
As merendeiras perderam a capacidade de sentir cheiros, algumas tiveram diminuição do pulmão e todas estão traumatizadas e com sequelas para o resto da vida. “Tudo isso fruto da negligência de pessoas irresponsáveis”, enfatiza Chico Vigilante.
O parlamentar argumenta que considera uma falta de humanidade o comportamento do diretor da escola, do diretor da regional de ensino e do responsável pela empresa G e E Eventos ao ignorarem a reclamação contínua feita pelas funcionárias. “Um total descaso, e um descaso conjunto, falta de respeito com a vida humana”, reclama o deputado, observando que além dos graves problemas desencadeados na saúde das cozinheiras, o gás poderia ter gerado uma combustão e explosão trágica no local.
“Eu vou até o fim nessa história para que essas funcionárias tenham tratamento gratuito e sejam indenizadas ou até mesmo aposentadas por invalidez dada a gravidade da situação em que se encontram”, alerta. Para Chico, o nível de irresponsabilidade da empresa G e E Eventos deve ser pago, no mínimo com a rescisão do contrato com a Secretaria de Educação. (Por: Idalina de Castro)