Vale da Lua: paraíso à venda

Enfim, os donos do Vale da Lua decidiram falar sobre a venda da mais famosa atração turística de Alto Paraíso de Goiás. Eles rejeitam propostas abaixo de R$ 15 milhões, mas admitem “conversar” sobre o preço. Autorizam apenas um corretor de imóveis de Sobradinho e uma advogada a negociar em nome deles, mas fazem questão de tratar pessoalmente sobre as condições de pagamento. Não escondem o incômodo com a especulação e contam ter recebido telefonemas de todo o país, descoberto anúncios da fazenda em cinco sites que nem sequer conheciam e ouvido muitas histórias falsas sobre a negociação.

Por outro lado, moradores e comerciantes do município a 230km de Brasília estão apreensivos. Apoiam a venda, desde que seja preservada toda a área verde e de banho do Vale da Lua, além de mantido o acesso ao público. O Poder Executivo até elabora um projeto de lei para garantir a visitação dos atrativos turísticos, mesmo os localizados em áreas particulares. A prefeitura teme acontecer com o Vale da Lua e outras atrações o mesmo que ocorreu com duas cachoeiras localizadas em fazendas, fechadas aos visitantes após serem negociadas com gente interessada apenas na agropecuária.

Há três meses, os 12 herdeiros da Vale das Araras decidiram colocar a fazenda à venda, aproveitando o fim do inventário e o boom imobiliário em Alto Paraíso. Eles designaram a missão a um dos amigos da família, o corretor Zigui Frid Freitas. Com sala em Sobradinho, o vendedor convenceu os clientes de que, devido à beleza rara do Vale da Lua, não poderiam pedir menos que R$ 15 milhões pela fazenda. “Já recebi e-mails e telefonemas de uns 15 interessados. Também mantenho conversas com um sheik, chanceleres de países europeus e representantes de multinacionais. Todos têm projetos para empreendimentos que vão de pousadas a resorts e hotéis-fazenda”, garante.

A área, onde pequenas crateras escavadas pelo atrito da areia levada pelas águas de um córrego formaram a paisagem, única no mundo, atrai interesse de investidores estrangeiros

Nesses três meses, porém, apareceram ao menos outros quatro corretores de Brasília e de Goiás anunciando o Vale da Lua em páginas na internet. Os valores vão de R$ 4 milhões a R$ 65 milhões. Mas os herdeiros dizem não ter autorizado ninguém a oferecer a propriedade, além de Zigui Frid e a advogada Maria Orleide Paulino Szervinsk, 58 anos, moradora de Brasília e também amiga da família. “Por R$ 4 milhões, já teríamos vendido aos vizinhos. Eles vivem oferecendo esse valor. A gente é humilde, mas não é bobo”, ressalta José Francisco. Ele mora na fazenda com outro herdeiro. (Reprodução integral da matéria do Jornal Correio Braziliense)