Presidente ucraniano defende diálogo e reforma constitucional

O presidente ucraniano, Viktor Yanukovytch, declarou ser favorável a uma reforma, ao receber a diplomata americana Victoria Nuland, pouco antes de sua viagem a Sochi, onde se reunirá com o russo Vladimir Putin.

Durante essa “visita de trabalho” em ocasião da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, na sexta-feira, ele deverá discutir com o presidente russo as complicadas relações entre Kiev, Moscou e o Ocidente.

Há dois meses, Yanukovytch enfrenta um forte movimento de contestação, com uma ferrenha oposição parlamentar e manifestantes acampados no centro da capital ucraniana.

Segundo um comunicado da Presidência, Yanukovytch disse a Nuland que deseja realizar uma reforma constitucional “o mais rapidamente possível”, em diálogo com a oposição.

Contudo, essa reforma deve ser conduzida “com respeito a todos os procedimentos”, insistiu o presidente, para quem “o diálogo e o compromisso” com a oposição são indispensáveis para solucionar a crise.

Esse é um dos pontos de divergência com a oposição, que deseja um retorno à Constituição de 2004 para reduzir os poderes presidenciais, enquanto o governo deseja redigir um novo texto.

Yanukovytch também anunciou que “medidas serão adotadas em breve para acelerar a libertação” dos manifestantes detidos durante os recentes confrontos com as forças de segurança, ainda de acordo com o comunicado. Esses enfrentamentos marcaram uma virada na crise, deixando pelo menos quatro mortos e cerca de 500 feridos.

O chefe de Estado fez essas declarações depois de a Rússia ter feito uma série de advertências nas últimas 48 horas para uma mudança de posição, levando a entender que o fornecimento da significativa ajuda financeira de Moscou dependerá do comportamento de Kiev.

Na capital ucraniana desde quinta, a diplomata se reuniu imediatamente com Vitali Klitschko, Arseni Yatsenyuk e Oleg Tiagnybok, os três principais líderes da oposição.

De acordo com um breve comunicado do partido Batkivchtchina (Pátria), de Yatsenyuk, seu encontro abordou principalmente as perspectivas de uma reforma constitucional exigida pela oposição.

No momento da chegada de Nuland, o Kremlin aumentou o tom, pedindo que os Estados Unidos parem de “chantagear” a Ucrânia e de financiar “os rebeldes” nesse país.

“O Ocidente tem que parar com a chantagem e com a intimidação ilustrada pelo encontro entre Nuland e os oligarcas, os representantes do presidente e a oposição”, declarou o assessor do presidente Vladimir Putin, Serguei Glaziev, em uma entrevista concedida ao jornal Kommersant Ukraine.

“Parece que os Estados Unidos querem um golpe de Estado”, acrescentou Glaziev, afirmando que os americanos gastam “20 milhões de dólares por semana para financiar a oposição e os rebeldes, incluindo para armá-los”.

Na véspera, o porta-voz do presidente Putin, Dmitri Peskov, já tinha declarado que Moscou manteria sua ajuda de 15 bilhões de dólares à Ucrânia e a redução de 30% no preço do gás, contanto que Kiev respeitasse seus compromissos.

O presidente ucraniano, Viktor Yanukovytch, recebe a diplomata americana Victoria Nuland em 6 de fevereiro de 2014

Essa ajuda foi oferecida pelo Kremlin depois da desistência de Yanukovytch em assinar um acordo de associação com a UE, desencadeando a crise no fim de novembro.

Enquanto isso, em Kiev, dois opositores ficaram feridos, sendo um com gravidade, nesta quinta na explosão de um pacote-bomba, indicou a Polícia.

Um homem abria um pacote com a inscrição “medicamentos”, que estava entre as várias doações recebidas pela oposição, quando a explosão aconteceu, arrancando a mão e ferindo o rosto da vítima, indicou a Polícia. Um adolescente de 15 anos também foi atingido, e teve os olhos afetados.

Na Lituânia, o opositor ucraniano torturado Dmytro Bulatov, declarou à imprensa que seus torturadores de língua russa o tinham forçado a admitir que ele era um espião americano.

Em tratamento em um hospital de Vilnius, Bulatov disse que seus sequestradores “deveriam ser membros dos serviços secretos russos”. (AFP)

 

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