Abusos a descendentes de escravos serão apurados por força-tarefa
Uma força-tarefa multidisciplinar deve ajudar a Polícia Civil de Cavalcante, no nordeste de Goiás, a concluir os inquéritos parados de estupros contra crianças e adolescentes kalungas, que são descendentes de quilombolas. A medida foi anunciada durante uma audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. O pedido será feito para o comando da Polícia Civil.
A reunião, realizada na segunda-feira (20), também contou com a participação de representantes do Ministério Público de Goiás, do governo estadual, e da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO). Desde janeiro, a Polícia Civil já concluiu dez inquéritos de estupro de meninas com até 14 anos. Um deles indiciou o vereador Jorge Cheim (PSD), de 62 anos, em fevereiro passado, por estupro de uma criança de 12 anos.
A reportagem tentou contato com o vereador Jorge Cheim, mas ele não foi localizado até a publicação dessa reportagem.
De acordo com a deputada estadual e presidente da Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa, Adriana Accorsi (PT), a presença dessa força-tarefa dará mais agilidade à conclusão dos processos. Serão enviados profissionais de diferentes áreas para que sejam feitos os exames e laudos necessários. “Tanto na parte judiciárias, mas também na parte de laudos, psicólogos forenses, que têm que vir aqui atender as crianças e adolescentes”, disse.
Além dessa força-tarefa, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) informou que além do juiz que já atende o município de Cavalcante, outro será deslocado para o município, mas não informou uma data para que isso ocorra. O objetivo é diminuir o tempo de espera pelo julgamento dos processos.
A comunidade Kalunga que vive em Cavalcante é uma das maiores do Brasil. O grupo ocupa uma área de 260 mil hectares, nas proximidades da Chapada dos Veadeiros, onde moram aproximadamente 8 mil quilombolas. Carentes, muitas crianças e adolescentes precisam trabalhar em troca de alimentação e estudos.
Investigação
O delegado responsável pelo caso, Diogo Luiz Barreira, explicou que o vereador Jorge Cheim começou a ser investigado em novembro de 2014, depois que uma criança de 12 anos denunciou que foi estuprada na fazenda do parlamentar. “Ele acordou à noite, amarrou a menina na cama e abusou dela”, disse. Após o crime, a criança procurou o Conselho Tutelar e denunciou o político.
Conforme o delegado, a menina morava com a família de Cheim na cidade e estava com eles a passeio na propriedade rural. Eles eram a família substituta da garota desde que os pais perderam a guarda. O delegado não soube informar o motivo e nem quando a menina se mudou do povoado Vão do Moleque, onde vivia, para a casa do suspeito.
De acordo o depoimento da vítima à polícia, houve só um episódio de abuso. Depois do crime, ela pediu para se mudar para a casa de tios, que também moram em Cavalcante. Além do depoimento da vítima, o delegado informou que o laudo do Instituto Médico Legal (IML) comprovaram que a menina foi vítima de abuso.
Barreira ressaltou, ainda, que os outros investigados pelos casos de abuso sexual são moradores da cidade.