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O Lago Paranoá está assinalando que existe algo errado, garante especialista do Ibram

Data:23-11-2016 Lago Poluido Foto:Hugo Barreto
Data:23-11-2016
Lago Poluido
Foto:Hugo Barreto

O Lago Paranoá tem um braço doente e pede socorro. O verde ainda dá o tom e o mau cheiro continua intenso. Após morte de milhares de peixes, ainda não se sabe o que causou desequilíbrio ecológico que afeta pouco mais de 5% de todo o volume aquático do espelho d’água. Amostras foram enviadas para análise e resultados concretos devem sair até o início de dezembro. Enquanto isso, apesar de proibidas por possíveis prejuízos à saúde, pescas e banhos continuam sendo vistos.

Não há contaminação, explica o superintendente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) Luiz Rios. As cianobactérias ou algas azuis, como são chamadas, existem no lago desde sua criação. “O que há é uma superpopulação dessas algas porque a água foi ‘adubada’ com excesso de matéria orgânica”, esclarece.

Nutrientes, umidade e sol são necessários para essas algas se desenvolverem. O fator limitante é o fósforo, que não está disponível com facilidade e impede que cresçam desenfreadamente, mas, segundo o especialista, houve algum tipo de lançamento do nutriente.

Entre as possibilidades de causas estão o envio de esgoto não tratado e o escoamento superficial causado pelas primeiras chuvas da temporada. “Sempre no auge do período da seca ou nas primeiras chuvas, o lago está mais sensível. Quando começa a chover, a água arrasta os materiais do asfalto, das calçadas, das plantações com características similares e até piores que esgoto, já que podem conter materiais mais pesados”, explica o superintendente.

Ponto-chave

O ponto de partida do fenômeno é o afluente Riacho Fundo que, segundo o especialista é, de longe, o mais poluído. “Ele drena a maior bacia do Lago Paranoá e tem, como borda, a DF-001. É onde tem mais impacto de ser humano, de ocupação irregular, de agrotóxico e uso de adubo. Faz com que sempre seja desequilibrado. A carga pode ter vindo dali”, supõe.

Segundo o Ibram, para chegar às causas, será necessária ampla investigação, que considera possibilidades diversas. “Não vai ter um único culpado, é um conjunto de fatores. Nós, como governo, vamos melhorar a gestão das bacias, e as ações da Agefis, de remover ocupações ilegais, estão incluídas, além do monitoramento constante, sinalização e informação à população”, assegura. Mas uma coisa o especialista garante: “O lago está assinalando que há algo errado, está pedindo socorro”.

Recomendação ignorada

Há uma semana, o governo alertou para a falta de balneabilidade do espelho d’água e proibiu banhos e pescas entre a foz do Riacho Fundo e o Pontão do Lago Sul. Isso continua válido. Quatro placas de sinalização foram instaladas e outras quatro devem ser colocadas até a semana que vem. A recomendação, no entanto, não é levada a sério pelos banhistas e pescadores.
Ricardo Silva tem 37 anos, é gari e há duas semanas remove peixes mortos e lixo da margem do Lago Paranoá. Ele flagrou duas canoas com pescadores atirando redes nesta semana. Ontem, o JBr. encontrou pescadores ignorando as recomendações. “É perigoso demais porque ninguém sabe exatamente o que está causando isso. Eu não tenho coragem. Tomara que o resultado saia logo”, afirma.

Riscos à saúde

De acordo com o Ibram e com a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento (Adasa), o aumento do número de cianobactérias no Lago Paranoá é o motivo para a morte dos peixes. Além de alterar a cor da água para um verde intenso, o fenômeno modifica a qualidade da água, por produzir toxinas, odores ou uma espuma densa de cor verde-azulada na superfície.

Em contato com a água, a pessoa pode ter alergia, conjuntivite, otite, dermatite ou desarranjo intestinal. Em casos extremos, como ingerir muitos litros ou comer muitos quilos de alimento infectado, pode ter problemas hepáticos e gástricos.

Área atrativa

Segundo os órgãos de controle, a recomendação para que se evite pesca não se refere à qualidade dos peixes, mas à saúde dos pescadores. A área afetada, segundo o superintendente do Ibram, é procurada pelos pescadores porque há mais matéria orgânica que atrai os peixes a se alimentarem e, ali, estão os animais mais gordos. “Só aquele braço tem dezenas de toneladas de peixes. Foram retirados 80 sacos. É pouco em relação ao total”, conta o superintendente do instituto, Luiz Rios.

PEIXES

Cuidados no consumo

  • O peixe deve ser consumido frito, cozido ou assado porque o calor mata todo possível contaminante, mas, como todos os alimentos, as pessoas não devem se atentar às inspeções sanitárias.
  • Periodicamente, a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural fiscaliza as agroindústrias processadoras de pescados da capital.
  • Os pontos de venda são fiscalizados por equipes da Secretaria de Saúde por meio da Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa).

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