GDF limita ações voluntárias para sem-teto
Ficou mais burocrático fazer caridade em Brasília. Agora, qualquer tipo de ação social nos terminais rodoviários carece de requerimento prévio e autorização do Transporte Urbano do DF (DFTrans). A medida, publicada no Diário Oficial no fim de setembro, teve um impacto imediato na quantidade de trabalhos voluntários e, claro, divide opiniões.
A providência organiza as ações, declara o diretor de Terminais do DFTrans, coronel Wender Costa. “Não havia nenhum planejamento. Os encontros aconteciam indiscriminadamente. Muitas vezes, eram ações conflituosas, que atraiam pessoas necessitadas e também mal-intencionadas. Com essa medida, evitamos pequenos delitos e garantimos a segurança de todos”, justifica.
Segundo ele, o balanço foi positivo depois de dois meses. “Os lojistas agradeceram. Conseguimos reduzir o número de eventos sem controle e a presença de pessoas em situação irregular, como foragidos da Justiça. A realidade é que muitos oportunistas aproveitavam a situação para cometer furtos e as ações iam dando força para que eles ficassem de vez nos terminais. A ideia era selecionar um público que realmente precisa”, diz.
Além disso, o coronel defende que a rodoviária não é local de assistência. “Para isso, temos os albergues. Apesar de o espaço ser público, a gente não incentiva a permanência. Isso porque os passageiros, o trânsito e a limpeza ficam prejudicados”, acrescenta ele. Até o momento, Costa disse não ter negado nenhum requerimento. Em geral, o órgão leva 72 horas para análise. No entanto, ela confirma que as ONGs não foram avisadas da mudança com antecedência, o que se refletiu em números. “Em novembro não tivemos nenhuma ação. Em outubro, sim”, admite.
Na Rodoviária do Plano Piloto, foram selecionados os pontos específicos: ao lado BRT, no mezanino, no pavimento superior e em frente às escadas. “Cerca de 500 mil pessoas chegam aqui. Precisamos ter controle de tudo”, conclui.
Barrada distribuição de sopa por ONG
Entre o voluntariado, a medida foi recebida com indignação. O fundador da ONG Salve a Si, José Henrique da França, foi pego de surpresa ao ser proibido de fazer uma ação na Rodoviária do Plano Piloto na semana passada e está revoltado. “Tive problema nas últimas três quintas-feiras. Primeiro, a Polícia Militar disse que estávamos alimentando traficantes. Depois, pediram para apresentar ofício autorizando a assistência e, por último, vetaram nossa ação”, relata.
Henrique diz ter levado o requerimento ontem à administração do terminal, mas se recusaram a receber. “Falaram que a gente fica alimentando os moradores de rua e, por isso, não querem ir aos abrigos. Ou seja, a culpa de a rodoviária estar lotada é nossa. O que não entendem é que vivemos uma epidemia chamada crack”, acrescenta.
Procurado pelo JBr., o DFTrans disse que vai apurar o caso e orienta que “requerimentos para ações sejam encaminhados à Diretoria de Terminais”.
Presente na rodoviária desde abril deste ano, L., 16 anos, lamenta a diminuição das ações. “Aqui ninguém ajuda. Antes, eu ganhava comida e roupas. Agora, estou pedindo nas casas das pessoas”, conta.
Por outro lado, o comerciante Oriel Bezerra Araújo, 56, é favorável ao posicionamento do governo. “Quando tem ação, é um tumulto só. Além disso, eles (moradores de rua) incomodam a clientela. Aqui não é lugar”, conclui.