Lançamento de chapa de Ibaneis sem Arruda provoca racha na base no DF

A base do governo Ibaneis Rocha (MDB) rachou. O governador do Distrito Federal saiu na frente, ontem, ao anunciar a chapa para a disputa à reeleição, com a deputada federal Celina Leão (PP-DF) como vice e a ex-ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos) na corrida ao Senado. Com o gesto, Ibaneis sinalizou oficialmente o rompimento com o ex-governador José Roberto Arruda (PL) e com a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF).

Agora, dois blocos se formam. De um lado, Ibaneis com o MDB, PP e Republicanos. De outro, está Arruda que se sentirá ainda mais à vontade para construir sua candidatura ao Palácio do Buriti. Arruda vai conversar com os aliados de Ibaneis que ficaram fora da chapa e com outras legendas que até já lançaram pré-candidaturas, como o PSDB, do senador Izalci Lucas; e o União Brasil, que lançou o senador José Antônio Reguffe.

O anúncio de Ibaneis ocorreu horas depois de um almoço na casa do governador, no Lago Sul. O emedebista convocou presidentes de partidos aliados ou possíveis parceiros de campanha para uma conversa em tom de ultimato. Disse que sabe da preferência do presidente Jair Bolsonaro por Arruda, mas deixou claro que tinha um compromisso de apoiá-lo e não rompeu.

Flávia Arruda reafirmou disposição de concorrer ao Senado na chapa de Ibaneis. Garantiu que falava como presidente do PL e com a anuência de Arruda, embora o ex-governador tenha recuperado a elegibilidade depois de decisões do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), e do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins.

Apesar de Flávia reafirmar o compromisso, o governador manteve o script, definido dias antes e anunciou a chapa acertada com a cúpula do PP e do Republicanos. Não era o que ele queria. Ibaneis fechou o acordo com o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e com o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, ambos bolsonaristas. Um acordo duplo. Mas o desejo do governador era a aliança com Flávia Arruda, um caminho que, na visão de Ibaneis, poderia lhe dar a reeleição no primeiro turno.

No almoço na casa de Ibaneis estavam presentes a deputada Celina Leão (PP), o presidente da Câmara Legislativa, Rafael Prudente (MDB), Flávia Arruda (PL), Lucas Kontoyanis (PMN), Daniel Tourinho (Agir), Wanderley Tavares (Republicanos), Paco Britto (Avante) e Paulo Octávio (PSD).

Nos últimos dias, Damares postou nas redes sociais que uma novidade seria anunciada nesta semana com a divulgação da chapa de Bolsonaro em Brasília. Mas ela não fala em nome do presidente que já demonstrou preferência por Arruda.

No lançamento da chapa, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que comanda nacionalmente o PP, disse que Ibaneis vai para a campanha como aliado de Bolsonaro, o que fica garantido com a parceria de dos partidos da base do presidente. “Vai ser uma eleição muito dura. O país está completamente dividido, mas não tenho dúvida de que essa união do presidente Bolsonaro com o governador Ibaneis será muito importante para a reeleição dos dois. A população não vai arriscar. Não vai retroceder”, disse Ciro.

O ministro disse ainda que Ibaneis estava recebendo como vice o “melhor quadro do PP”. “Tenho certeza de que, com o apoio da Celina, o senhor terá um segundo mandato ainda melhor do que o primeiro”, disse ao governador.

A decisão de Ibaneis desagradou aliados, como Paulo Octávio (PSD) que deseja concorrer ao Senado e o vice-governador Paco Britto (Avante), que até a última hora esperava ser mantido na chapa. Ele esperava uma conversa com o governador havia meses. Agora precisa avaliar se mantém a parceria com o governador. Em conversas reservadas, Paco disse que mantém a lealdade. No almoço, ele perguntou o que lhe caberia na aliança. Ibaneis respondeu que os partidos não contemplados na chapa deverão participar do próximo governo.

No anúncio da chapa, Ibaneis não parecia satisfeito. Estava com a fisionomia fechada e sem sorrisos. Ao se pronunciar, o governador disse que se sentia como se a eleição de 2018 estivesse se repetindo, quando Jofran Frejat retirou a candidatura por pressões mesmo com chances reais de vitória. Ibaneis disse que sentiu que “as vontades de determinadas pessoas quisessem superar o ambiente político que é totalmente a vontade de continuidade do nosso mandato”Arruda começa a conversar com partidos aliados e montar a chapa para o Palácio do Buriti

Palanque bolsonarista

Ao anunciar a chapa com Celina e Damares, o governador Ibaneis Rocha ressaltou: “Consolidamos aqui no Distrito Federal um belíssimo palanque para o presidente Jair Messias Bolsonaro, que não precisa ter dúvidas do nosso apoio”.

Ibaneis contou que recebeu Damares em seu gabinete há alguns dias para as primeiras conversas. Ela estava acompanhada do presidente do Republicanos no DF, Wanderley Tavares. O governador disse que ressaltou seu compromisso com a candidatura de Flávia Arruda e que só poderia romper o acordo se partisse dela a iniciativa. “Eu disse à ministra: ‘Tenho um acordo e só desfaço um acordo se a pessoa com quem eu fiz o acordo disser que estou liberado. E hoje eu me senti liberado desse acordo porque esse acordo quando foi feito não dependia de mais ninguém’”, afirmou Ibaneis.

O atual chefe do Palácio do Buriti ressaltou: “Eu entro hoje nessa sala com o coração livre, liberto de qualquer acordo que eu fiz no passado e daqui para frente quem quiser tratar de qualquer caminho — e o caminho está sempre aberto — vai ter que sentar e fazer um novo acordo”.

Arruda vai procurar PSDB e União Brasil

O primeiro passo dado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) abre novos caminhos para composições políticas para as eleições. Ibaneis deixou fora de sua chapa políticos com densidade eleitoral, como a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF), mais votada na última eleição, o ex-governador José Roberto Arruda (PL), que mantém uma base eleitoral fiel, e o empresário Paulo Octávio (PSD).

Um dos primeiros passos de Arruda agora será buscar uma aliança com o União Brasil, partido com quem mantém uma relação política de décadas. Não à toa o senador José Antônio Reguffe publicou nas redes sociais que “forças ocultas” agem no partido para tentar inviabilizar sua candidatura ao governo.

Arruda tem conversado com o presidente regional da legenda, Manoel Arruda, mas seu principal contato é o vice-presidente nacional do União Brasil, Antônio de Rueda. Reguffe, no entanto, tem um compromisso do presidente nacional e pré-candidato ao Planalto, Luciano Bivar, de que o partido não o impedirá de ser candidato ao Buriti.

Arruda conversa bem também com o senador Izalci Lucas (PSDB-DF). O tucano garante que manterá candidatura ao governo. Em reunião ontem da federação PSDB-Cidadania, ficou definido que Izalci coordenará a montagem da chapa majoritária no DF. A executiva regional será criada e, se não sair um acordo com a deputada Paula Belmonte (Cidadania-DF) até a próxima terça-feira, haverá uma intervenção nacional.

Reguffe, por sua vez, disse que não será candidato a deputado federal. Ele ressaltou pelas redes sociais: “Prefiro sair da política”. O partido de Reguffe não fez nenhuma manifestação público sobre esse pronunciamento.

As conversas continuam nas próximas semanas. O prazo final para as convenções dos partidos é 5 de agosto. Até lá, acordos podem ser feitos e desfeitos. Arranjos políticos podem provocar reviravoltas.

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fonte:

Correio Brasiliense

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