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Saiba por que laboratório de R$ 1 bilhão previsto no novo PAC será único no mundo

Conheça detalhes do projeto cujo investimento foi anunciado nesta sexta (11) pelo governo federal. Estrutura batizada de Orion ficará junto ao Sirius, acelerador de partículas brasileiro


Com investimento previsto de R$ 1 bilhão, como parte do novo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), do governo federal, o laboratório de biossegurança máxima (NB4) que será construído no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), terá uma característica única no mundo: é a primeira vez que a estrutura estará conectada a uma fonte de luz síncrotron, o Sirius. Conheça, abaixo, detalhes do projeto.

🧪 O complexo laboratorial de máxima contenção biológica representa um avanço para o Brasil, que permitirá pesquisas com patógenos capazes de causar doenças graves e com alto grau de transmissibilidade (das chamadas classes 3 e 4) – estrutura essa que não existe até hoje em toda a América Latina.

💉Possuir um laboratório de biossegurança máxima (NB4) oferece condições ao país de monitorar, isolar e pesquisar os agentes biológicos para desenvolver métodos de diagnóstico, vacinas e tratamentos.

🧫No caso do Brasil, mais do que armazenar e manipular essas amostras biológicas, o laboratório de biossegurança máxima terá acesso exclusivo a três linhas de luz (estações de pesquisa) do Sirius, o que não existe em nenhum outro lugar do mundo.

🌟 É por conta dessa conexão com o Sirius que vem o nome do projeto, Orion, em homenagem à constelação que possui três estrelas apontadas para a estrela que batizou o acelerador de partículas brasileiro.

👩‍🔬 O projeto prevê a capacitação de cientistas brasileiros para lidar com agentes infecciosos desses tipos. Essa formação já integra o custo previsto de R$ 1 bilhão.

🏗 O complexo laboratorial terá cerca de 20 mil metros quadrados, e sua construção está prevista para ficar pronta até 2026. Após essa etapa, o Orion passará pelo chamado comissionamento técnico e científico, e também por certificações internacionais de segurança, para que possa entrar em operação regular.

Vírus circulantes na mira

De acordo com o CNPEM, existem cerca de 60 laboratórios de máxima contenção no mundo, com estrutura e certificados para manipular amostras biológicas classificados como “classe 4” – nenhum deles na América do Sul, Central ou Caribe.

🥼 E o que isso permite? Para se ter uma ideia, o primeiro e único vírus desta categoria já identificado no Brasil, o Sabiá (SABV), que causa a febre hemorrágica brasileira, doença diagnosticada em humanos pela primeira vez na década de 1990, tem amostras isoladas armazenadas no exterior.

Pesquisas mais aprofundadas sobre a doença não são realizadas hoje em solo brasileiro por falta de infraestrutura adequada. Segundo Antônio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM, a doença teve recentes notificações.

😷 Veja exemplos de outros vírus que poderão ser manipulados no Orion e que são circulantes na América Latina:

  • Junín: causador da febre hemorrágica argentina
  • Guanarito: causador da febre hemorrágica venezuelana
  • Machupo: causador da febre hemorrágica boliviana

No mundo, estruturas como essa são as responsáveis por análises e estudos de vírus como o Ebola, por exemplo, que são mais perigosos que o Sars-Cov-2, causador da Covid-19.

E a própria Covid-19 serve de alerta sobre a necessida de monitoramento de agentes conhecidos, em constante mutação, e novas ameaças – crescimento populacional e desmatamento, por exemplo, são apontados como fatores de desequilíbrio em áreas que podem ser reservatórios naturais de doenças ainda desconhecidas.

“A pandemia recolocou no centro do debate a importância do domínio nacional de uma base produtiva em saúde, bem como o papel do Estado na coordenação de agentes e investimentos no enfrentamento da crise sanitária. Nesse contexto, a implantação do laboratório de biossegurança nível 4 é estratégica para o país. E a conexão entre o NB4 e a fonte de luz síncrotron abrirá grandes oportunidades de pesquisa e desenvolvimento na área de patógenos, posicionando o Brasil como liderança global”, afirmou a ministra Luciana Santos.

Por que o Orion será único no mundo?

De acordo com Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM, além de instalações laboratoriais em NB3 e NB4 e das estações de pesquisa com técnicas de luz síncrotron, junto ao Sirius, o projeto deve ainda reunir laboratórios de pesquisa básica, técnicas analíticas e competências avançadas para imagens biológicas, como microscopias eletrônicas e criomicroscopia.

“Todas essas competências científicas reunidas em um unico complexo é algo que o diferencia de toda infraestrutura disponível no Brasil e no mundo”, destaca.

📝Um dos pontos-chave do projeto está na capacitação de pessoal, que contará com parcerias com instituições internacionais de referência e treinamentos no exterior. O programa prevê atividades práticas em ambiente-modelo (Laboratório Mockup), no próprio CNPEM.

Segundo Silva, as equipes enfrentrão condições simuladas, sem a manipulação de materiais infecciosos ou risco de contágio, sob supervisão de profissionais capacitados.

“Paralelamente às obras e aos desenvolvimentos tecnológicos do Projeto Orion, o CNPEM irá conduzir um programa nacional de treinamento e capacitação em infraestruturas de alta e máxima contenção biológica, voltado à formação de recursos humanos em competências ainda pouco desenvolvidas no Brasil e nos demais países da América Latina”, detalha o diretor.

Sirius, fase 2

Considerado o principal projeto científico brasileiro, o Sirius é um laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, que atua como uma espécie de “raio X superpotente” que analisa diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas.

Ele foi projetado para abrigar até 38 linhas de luz (estações de pesquisa), sendo 14 delas previstas na primeira fase. Agora, com o novo PAC, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) vai destinar mais R$ 800 milhões para avançar no projeto.

Das novas estações previstas, três serão conectadas ao complexo Orion – as linhas são batizadas com nomes inspirados na fauna e flora brasileira, e essas serão a HibiscoTimbó Sibipiruna.

As três linhas, segundo o diretor do CNPEM, devem ser entregues justamente com toda a estrutura voltada para pesquisa básica, técnicas analíticas e competências de bioimagens previstas para o Orion.

“Essas estações de pesquisa permitirão extrair informações estruturais quantitativas a respeito dos sistemas infectados com patógenos de classe 3 e 4, desde o nível subcelular até o nível de organismo. Com isso, geraremos imagens 3D que permitirão, por exemplo, o estudo celular em escala nanométrica, passando pela dinâmica de inflamação nos tecidos e danos aos órgãos, até o acompanhamento do processo de infecção no organismo. Juntamente com as outras técnicas avançadas que serão integradas no Orion, teremos condições para que patógenos, células, tecidos e organismos sejam pesquisados de forma segura, o que tornará possível a compreensão dos fenômenos biológicos relacionados ao desenvolvimento das doenças e guiará o desenvolvimento de futuros métodos de diagnóstico, vacinas e tratamentos”, detalha Silva.

❓ Como funciona o Sirius? Para observar as estruturas, os cientistas aceleram os elétrons quase na velocidade da luz, fazendo com que percorram o túnel de 500 metros de comprimento 600 mil vezes por segundo. Depois, os elétrons são desviados para uma das estações de pesquisa, ou linhas de luz, para os experimentos.

🧲 Esse desvio é realizado com a ajuda de ímãs superpotentes, e eles são responsáveis por gerar a luz síncrotron. Apesar de extremamente brilhante, ela é invisível a olho nu. Segundo os cientistas, o feixe é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.

Novo PAC na região de Campinas

Além da construção do Orion e a fase 2 do Sirius, o governo federal anunciou investimentos em diferentes áreas na região de Campinas, como a expansão da Replan, maior refinaria de petróleo do Brasil, e investimento no Trem Intercidades. Veja mais detalhes abaixo.

  • Aumento da capacidade de refino da Replan
  • Trem Intercidades (TIC)
  • Saúde, educação, habitação e mais

Aumento da capacidade de refino da Replan

⛽ A Refinaria de Paulínia (Replan), maior unidade de processamento de petróleo da Petrobras, deve ser ampliada por meio de investimentos do novo PAC, de acordo com o governo federal.

As obras previstas incluem construção e ampliação de unidades para aumento da capacidade de refino. Atualmente, o local tem capacidade para processar 69 mil m³ de petróleo por dia, o equivalente a 434 mil barris, e atende a 30% do território brasileiro.

Na planta são produzidos derivados como gasolina, diesel, querosene de aviação, gás liquefeito de petróleo (GLP, o gás de cozinha), óleo combustível, asfalto, propeno e bunker, entre outros.

Trem Intercidades (TIC)

🚈 O Trem Intercidades São Paulo-Campinas (TIC) deve percorrer os 101 km entre São Paulo e Campinas no tempo previsto de 1 hora e 4 minutos, atendendo também as cidades de Jundiaí, Louveira, Vinhedo e Valinhos.

O edital prevê aporte de R$ 12,8 bilhões para a infraestrutura, incluindo a construção e modernizações. O montante que será repassado pelo novo PAC não foi confirmado até esta publicação.

Rafael Benini, Secretário de Parcerias em Investimentos (SPI), informou que o serviço intermetropolitano estará em funcionamento até 2029, enquanto o trem expresso, que prevê apenas uma parada de dois minutos em Jundiaí, deve começar a operar até 2031.

Saúde, educação, habitação e mais

O novo PAC também prevê aportes destinados a obras nas áreas da saúde, educação, habitação, saneamento e cultura (veja detalhes na tabela acima). O programa Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, deve construir novas unidades habitacionais em 16 cidades da região.

Veja, abaixo, o resumo dos empreendimentos previstos por área:

  • Abastecimento de água: obras em Campinas, Mogi Guaçu, Mogi Mirim, Pedreira, Indaiatuba, Sumaré e Americana;
  • Esgotamento sanitário: obras em Campinas, Mogi Guaçu e Sumaré;
  • Minha Casa, Minha Vida: obras em Águas de Lindoia, Americana, Amparo, Artur Nogueira, Campinas, Espírito Santo do Pinhal, Estiva Gerbi, Hortolândia, Indaiatuba, Jaguariúna, Mogi Guaçu, Mogi Mirim, Monte Mor, Sumaré, Valinhos e Vinhedo;
  • Urbanização de favelas: retomada das obras do Córrego Taubaté, em Campinas;
  • Educação básica: obras em Americana, Indaiatuba, Mogi Guaçu, Monte Mor e Santo Antônio de Posse;
  • Inovação e pesquisa: obras em Campinas e Jaguariúna, incluindo aquisições de equipamentos para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa);
  • Serviços postais: implantação de sistema de triagem automatizado em Valinhos;
  • Cultura: retomada das obras do Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU) em Artur Nogueira;
  • Atenção primária: retomada das obras na Unidade Básica de Saúde de Monte Mor;
  • Combustíveis de baixo carbono: produção de combustíveis com percentual renovável em Paulínia;
  • Eficiência energética: obras de iluminação pública (IP) em Campinas;
  • Transmissão de energia: obras de linhas com 388 km de extensão na subestação de Campinas.

O PAC

A nova versão do PAC foi coordenada pela Casa Civil, que selecionou projetos de infraestrutura nas 27 unidades da federação.

Lula aposta no retorno do programa para incentivar a geração de emprego e renda com grandes obras em diferentes áreas, com empreendimentos executados pelo governo federal e parcerias com o setor privado.

O PAC foi criado em 2007, no segundo mandato de Lula, e mantido até o final da gestão de Dilma Rousseff, em 2016. Nas edições anteriores do programa, o governo gastou R$ 666,5 bilhões, em valores atualizados pela inflação até junho deste ano.

Apesar dos altos valores de investimento, o PAC teve baixa execução de obras. Um relatório do TCU de 2019 aponta que o PAC 1 (2007 a 2010) concluiu somente cerca de 9% das ações previstas no período. Já o PAC 2 (2011 a 2014) entregou 26% das medidas previstas.

fonte:

g1

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