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Entenda, em 6 pontos, as acusações de hacker contra Bolsonaro na CPI do 8 de janeiro

Walter Delgatti afirma que ex-presidente o indicou ao Ministério da Defesa, citou manipulação de urnas e pediu que assumisse grampo contra Alexandre de Moraes

Em depoimento à CPI do 8 de janeiro nesta quinta-feira, o hacker Walter Delgatti Netto atribuiu ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) orientações para manipular urnas eletrônicas, assumir a autoria de um suposto grampo realizado contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e participar de reuniões com o Ministério da Defesa. As declarações de Delgatti na sessão do colegiado, que segue em andamento, devem servir de combustível para o plano da base do governo Lula (PT) de convocar o próprio Bolsonaro à comissão.

Veja a seguir, em seis pontos, as acusações feitas pelo hacker a Bolsonaro:

1 – Manipulação de código-fonte da urna eletrônica

Segundo Delgatti, em reunião no dia 9 de agosto do ano passado com integrantes da campanha de Bolsonaro, o marqueteiro do PL, Duda Lima, lhe pediu que fizesse uma versão adulterada do código-fonte das urnas eletrônicas a fim de fazer uma demonstração pública.

O hacker relatou à CPI que o objetivo de Lima era que esse “código malicioso” fosse inserido em uma urna eletrônica para dar a entender ao público, de forma errônea, que o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) seria passível de manipulações, como registrar um voto diferente do digitado pelo eleitor. O código-fonte oficial, no entanto, é disponibilizado publicamente para auditoria antes de as urnas eletrônicas serem lacradas e enviadas aos locais de votação; este processo impede adulterações no momento da votação.

— No dia 7 de setembro (de 2022), (a ideia era) eles pegarem uma urna, emprestada da OAB (Ordem dos Advogados Brasil), eu acredito, para que eu colocasse um aplicativo meu lá e mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro. (…) Eles queriam que eu fizesse um código-fonte meu, não o oficial do TSE, e inserisse essas linhas que eles chamam de código malicioso, porque ele tem como finalidade enganar, colocar dúvidas na eleição — afirmou Delgatti.

De acordo com Delgatti, participavam da reunião, além de Duda Lima, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), além do irmão de Zambelli, Bruno, deputado estadual por São Paulo, e o marido da deputada, o coronel Aginaldo Oliveira, ex-comandante da Força Nacional no governo Bolsonaro.

Delgatti disse que o próprio Bolsonaro endossou a ideia de manipulação do código-fonte da urna eletrônica, em reunião no dia seguinte, 10 de agosto, entre o então presidente e o hacker.

— E a conversa foi bem técnica, até que o Presidente me disse, falou assim: ‘Olha, a parte técnica eu não entendo, então, eu irei enviá-lo ao Ministério da Defesa, e lá, com os técnicos, você explica tudo isso’. A conversa se resumiu nisso. E também, ele pediu que eu fizesse o que o Duda havia dito sobre o dia 7 de setembro — declarou.

2 – Assumir grampo contra Moraes

Ainda de acordo com Delgatti, Bolsonaro solicitou posteriormente, no segundo contato entre ambos, que o hacker assumisse a autoria de um monitoramento escondido, conhecido como “grampo”, que teria sido plantado contra o ministro do STF e presidente do TSE, Alexandre de Moraes.

A solicitação teria sido feita por telefone, em contato intermediado pela deputada Carla Zambelli, que havia se encontrado com Delgatti em um restaurante no interior de São Paulo.

— E, nisso, eu falei com o Presidente da República e, segundo ele, eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do Ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, esse grampo foi realizado já, teria conversas comprometedoras do Ministro e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo. (…) Ele disse, no telefonema, que esse grampo fora realizado por agentes de outro país. Ele me disse. Não sei se é verdade, se realmente aconteceu o grampo, porque eu não tive acesso a ele — relatou Delgatti.

Anderson Torres presta depoimento na CPI do 8 de janeiro

Anderson Torres na chegada ao Congresso para depor na CPI do 8 de janeiro — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

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3 – Garantia de indulto presidencial em caso de prisão

Na sequência de seu relato à CPI do 8 de janeiro, Delgatti afirmou que Bolsonaro lhe garantiu, na reunião do dia 10 de agosto, que receberia um indulto presidencial. A promessa do então presidente, segundo o depoimento, seria uma forma de tranquilizá-lo sobre eventuais processos judiciais decorrentes de ataques ao sistema eleitoral brasileiro.

Posteriormente, em seu segundo contato com Bolsonaro, por telefone, o chefe do Executivo sinalizou, de acordo com o depoimento, que o hacker “teria o prometido indulto” caso tivesse problemas com a Justiça por assumir o suposto grampo realizado contra Moraes.

— E ele ainda disse assim, “olha, se caso alguém te prender, eu mando prender o juiz”, ele usou essa frase — relatou Delgatti, referindo-se a Bolsonaro.

Delgatti relatou aos parlamentares que ansiava por um indulto presidencial por ser alvo da Operação Spoofing, que lhe impôs medidas cautelares por invadir celulares de autoridades. De acordo com Delgatti, a medida também poderia beneficiá-lo em possíveis ações judiciais por colocar em xeque, de forma enganosa, a confiabilidade do sistema eleitoral.

4 – Orientações ao Ministério da Defesa

O hacker afirmou ainda aos parlamentares que partiu de Bolsonaro uma recomendação para que se reunisse com integrantes do Ministério da Defesa antes das eleições de 2022. A pasta era chefiada, à época, pelo general Paulo Sérgio Nogueira. Na ocasião, representantes das Forças Armadas participavam da comissão de fiscalização eleitoral do TSE, destinada a averiguar a segurança do processo eleitoral e das urnas eletrônicas.

De acordo com Delgatti, Bolsonaro orientou um de seus assessores, o coronel Marcelo Câmara — envolvido também no caso do resgate das joias árabes enviadas ao ex-presidente –, que levasse o hacker ao Ministério da Defesa. Delgatti afirmou à CPI que Bolsonaro insistiu no pedido. A ideia era “explicar aos técnicos” da Defesa o que ambos haviam discutido sobre manipulação das urnas.

— E ele (Bolsonaro) fala: “Olha, eu preciso que você o leve até o Ministério da Defesa”. Ele (Câmara) contrariou, disse: “Não, mas lá é complicado”. E o Bolsonaro disse: “Não, isso é uma ordem minha. Cumpra” — afirmou Delgatti.

O hacker afirmou ter ido cinco vezes ao Ministério da Defesa, inclusive conversando com o então ministro, general Paulo Sérgio, em uma dessas ocasiões. O objetivo, segundo Delgatti, era discutir aspectos técnicos das urnas eletrônicas e de seu código-fonte.

5 – Invasão a sistema do CNJ

Segundo o depoimento de Delgatti, a deputada federal Carla Zambelli teria lhe pedido que invadisse sistemas internos do Poder Judiciário, atribuindo a orientação a Bolsonaro. O hacker afirmou ter mantido acesso por quatro meses à rede do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e, como resultado desta invasão, introduziu no sistema um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes.

— A deputada me disse que eu precisava invadir algum sistema de Justiça, ou o TSE em si, ou alguma invasão que mostrasse a fragilidade do sistema de Justiça. Dizendo que seria uma ordem também do presidente, porém apenas a deputada me disse isso. Eu não ouvi isso do presidente — disse Delgatti.

De acordo com o hacker, Zambelli lhe enviou diversos pagamentos à época desta invasão, que totalizaram R$ 40 mil. Delgatti afirmou que a deputada havia lhe prometido emprego, mas que, enquanto esta proposta não era efetivada, ele pedia recursos para arcar com suas despesas.

6 – ‘Garoto-propaganda’ de campanha eleitoral

O hacker também relatou à CPI do 8 de janeiro que, no seu encontro com o marqueteiro Duda Lima e com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, em agosto do ano passado, houve uma proposta para que ajudasse na campanha à reeleição de Bolsonaro. De acordo com Delgatti, a ideia apresentada pelo marqueteiro era que isto ocorresse de forma escamoteada, concedendo entrevistas nas quais levantaria dúvidas sobre a confiabilidade das urnas.

A ideia da equipe de Bolsonaro, segundo o hacker, era se valer de um suposto prestígio que havia alcançado entre o eleitorado de esquerda após ter invadido celulares de integrantes da Operação Lava-Jato.

— O Duda, que era o marqueteiro, inicialmente disse que o ideal seria eu fazer uma entrevista, participar de uma entrevista com a esquerda e, de forma espontânea, falar sobre as urnas. Essa era a ideia inicial — afirmou o hacker.

O que dizem os citados

Procurada pelo GLOBO, a defesa de Jair Bolsonaro informou que irá se pronunciar apenas após o término do depoimento de Walter Delgatti Netto.

Em nota, Zambelli “afirmou que “refuta e rechaça qual quer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais”. Segundo o texto, o hacker “usa e abusa de fantasias em suas palavras”, apresenta “versões que mudam com os dias e distorções e invenções recheadas de mentiras”.

Ao g1, também em nota, o marqueteiro Duda Lima negou ter participado de reunião com Delgatti em agosto do ano passado e disse estar “indignado” com o relato.

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fonte:

O GLOBO

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