Venezuela se despede de Chávez sob temores de instabilidade política

Um modesto caixão envolto na bandeira venezuelana guiou na quarta-feira, 6, uma multidão vestida de vermelho por Caracas, enquanto o corpo do presidente Hugo Chávez, morto na terça-feira, era levado do hospital à academia militar onde permanecerá até o enterro, amanhã. Longe do féretro, venezuelanos correram a bancos, mercados e postos de gasolina, temendo que uma eventual instabilidade política leve ao desabastecimento.

CortejoFunebre Chavez em Caracas
CortejoFunebre Chavez em Caracas

Em um clima carregado de emoção, dezenas de milhares de chavistas e militares em lágrimas lutavam para se aproximar do caixão do presidente que governou por 14 anos e prometeu criar na América Latina o socialismo do século 21. Outros erguiam os braços com os punhos cerrados aos gritos de “A luta continua! Chávez vive!” e “Chávez ao Panteão, junto com Simón”, em alusão ao herói libertador Simón Bolívar.

Em agências bancárias do centro de Caracas e postos de gasolina as filas eram longas e vários mercados e lojas da capital tiveram de fechar as portas antes da hora. Muitos venezuelanos temem a falta de suprimentos caso haja problemas no processo de sucessão política, até as eleições.

Antes de o corpo de Chávez deixar o hospital, um padre conduziu uma oração por seu “eterno descanso” e a octogenária mãe do presidente, Elena Frías de Chávez, com um lenço na cabeça, debruçou-se sobre o caixão do filho.

O sucessor político do líder bolivariano e presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro, caminhava à frente da multidão, acompanhado por vários integrantes do primeiro escalão do governo e sob a proteção de batedores da polícia.

O ministro da Defesa, Diego Molero, reiterou na quarta-feira seu apoio a Maduro. Em comentários à rede estatal, ele disse que o candidato presidencial deve ser Maduro, como Chávez desejou. “Nossa missão é levar Nicolás Maduro à presidência da República Bolivariana da Venezuela”, declarou. Desde a morte do líder, a cúpula política e militar do chavismo buscou mostrar publicamente que segue unida e dará apoio incondicional a Maduro. Molero, que havia garantido lealdade ao presidente interino momentos após o anúncio da morte de Chávez, chegou a afirmar, de madrugada no Twitter, que as Forças Armadas dariam apoio a Maduro na disputa contra Henrique Capriles, o líder da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD).

À passagem de autoridades pelas ruas, chavistas davam gritos de apoio ao governo. Desde o amanhecer, canhões do Exército disparavam a cada hora.

O percurso do féretro, do hospital à academia militar, levou mais de seis horas, percorrendo 8 quilômetros que abrangeram os pontos da capital onde Chávez comandou comícios históricos, como no Forte Tiuna e em Los Próceres. “Te amarei para sempre, meu pai”, dizia um cartaz no destino final. Ainda não foi anunciado onde será enterrado o presidente. Vários chefes de Estado, incluindo o boliviano Evo Morales – que caminhou com Maduro à frente do caixão -, a argentina Cristina Kirchner e o uruguaio José Mujica, já estão na Venezuela.

A presidente Dilma Rousseff e vários outros líderes internacionais, como o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, devem chegar a Caracas nesta quinta-feira, 7.

O líder bolivariano morreu aos 58 anos após quatro cirurgias em Havana e várias sessões de químio e de radioterapia, em um tratamento contra o câncer na região pélvica que durou 18 meses. A morte de um presidente em exercício é algo inédito na história recente da Venezuela. O último caso do tipo ocorreu em 1935, com o ditador Juan Vicente Gómez.

A Constituição determina a realização de eleições presidenciais em até 30 dias, nas quais Maduro deverá ser o representante do campo chavista . Na madrugada de terça para quarta-feira, o presidente interino elogiou a “boa vontade da oposição venezuelana” diante da morte de Chávez.

“Acolhemos suas expressões respeitosas de condolência e as respondemos com boa vontade”, disse Maduro, na rede Telesul, sobre o comunicado da MUD, lido por Capriles, lamentando a perda do presidente. “Espero que essas expressões se mantenham para que nossa Venezuela possa transitar por esses dias tão difíceis.”

Pouco antes de anunciar a morte de Chávez, o presidente interino da Venezuela afirmou haver indícios de que o líder bolivariano fora “contaminado” com câncer. No mesmo pronunciamento, Maduro informou a expulsão de um adido militar dos EUA que estaria “conspirando contra a estabilidade” da Venezuela. Em seguida, o chanceler de Caracas, Elías Jaua, afirmou que um outro funcionário americano também seria expulso.

Nas ruas próximas à academia nacional, grupos de partidário do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), se comprometia a “resguardar as conquistas da revolução bolivariana”.

Entre as principais críticas dirigidas a Chávez nos 14 anos em que esteve no poder dizia respeito a sua retórica que aprofundava as divisões da sociedade boliviana. O discurso radical, no entanto, deu ao líder bolivariano a popularidade necessária para vencer quase todas as disputas eleitorais nas quais se envolveu.  (Com informações das agencias AP e EFE)

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