Família de boliviano diz que não tem a ‘menor perspectiva’ de voltar ao país

A família do senador boliviano Roger Pinto tenta se adaptar à realidade de Brasiléia(AC), cidade no interior do Acre em que vivem desde 2012. A filha do político, Denise Pinto, de 23 anos, acompanhou o pai durante todo o período em que permaneceu na embaixada, em La Paz, e chegou ao Brasil, para encontrar com a família, no último final semana. Ela é a única que pode se pronunciar, pois não é refugiada, e revela que eles não têm a ‘menor perspectiva’ de voltar para a Bolívia.

“Sou realista. Não creio que o governo vá mudar tão cedo. Não temos a menor perspectiva de voltar”, afirma Denise. A esposa do senador,  Blanca Inez Pinto, duas filhas, um genro e 4 netos menores de idade tentam levar uma vida normal na pequena cidade, mas, de acordo com Denise, o processo de adaptação está sendo mais difícil para as crianças, já que eles sofrem bullying no colégio.

Apesar disso, a família pretende se estabelecer no Brasil e recomeçar a vida. De acordo com Roger Zavala, da Associação de Refugiados Bolivianos no Acre, eles vivem em uma casa no interior do Acre que pertence a um antigo amigo do senador boliviano e pretendem comprar o imóvel. Na Bolívia, segundo Zavala, vivem outros familiares do senador. “São parentes de segundo grau, mas seus filhos e netos estão agora todos no Brasil”, disse.

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Denise Pinto, filha do senador boliviano, diz que fala
diariamente com o pai (Foto: Rayssa Natani/G1)

Segundo Zavala, é uma irmã do senador que administra hoje os negócios da família, uma fazenda de gado que fica na estrada de El Porvenir, na Bolívia. É com esse dinheiro que eles se sustentam.

Denise diz que a família nunca sobreviveu de política. “Na Bolívia um senador ganha menos do que um policial no Brasil”, diz.

No último ano de Direito em uma universidade de  La Paz, Denise morava na cidade boliviana e deixou tudo para trás, a pedido do pai. A vida, conforme ela, mudou completamente desde o asilo na embaixada brasileira e a saudade é constante.

A filha do senador afirma que Roger Pinto sempre procurava ser um pai e avô presente. Com o asilo, os dois se aproximaram muito, e mesmo com restrições de visita, passavam bastante tempo juntos na embaixada. Hoje se falam todos os dias por meio da internet. “Ele se tornou muito mais que um amigo pra mim. Me pede conselhos até do que vai vestir ou se mantém ou não a barba”, comenta.

Sobre a operação para trazer o senador para território brasileiro, ela conta que o pai lhe avisou que iria para o Brasil dias antes, mas, por questão de segurança, não deu detalhes.

No início, com toda a repercussão, eles temiam a extradição, mas os advogados dizem que não há essa possibilidade, o que tranquilizou a família. “Mesmo assim, como filha tive medo”, diz.

Denise explica que o pai estava muito debilitado na Bolívia, tinha problemas renais, estava nitidamente abatido e sofria com depressão. O quadro se intensificou nos dois últimos meses. Mas ele tinha uma relação boa com as pessoas da embaixada. “Se transformaram praticamente em uma família durante esses 15 meses”, diz.

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Blanca Inez, esposa de Roger com a filha a Denise, em Brasiléia, onde vivem (Foto: Rayssa Natani/G1)

Entenda o caso
O senador boliviano Roger Pinto, de 53 anos, chegou ao Brasil depois de viver mais de um ano asilado na embaixada brasileira em La Paz. Ele foi trazido pelo diplomata brasileiro Eduardo Saboia mesmo com a vinda dele ao país não tendo sido autorizada nem pelo governo boliviano nem pelo brasileiro.

Pinto foi condenado no mês de junho a um ano de prisão por “abandono do dever” e por “dano econômico ao Estado”. Segundo a denúncia, ele foi responsável por prejuízo de mais de 1,6 milhão de dólares aos cofres públicos em 2000, acusado de conceder recursos de maneira irregular à Universidade Amazônica de Pando. Ele responde ainda a cerca de 20 processos por desacato, venda de bens do Estado e corrupção.

Todavia, o parlamentar alega que está sofrendo perseguição política e afirma que os processos foram instaurados depois que ele fez denúncias de corrupção contra o governador de Pando e entregou informes reservados ao presidente Evo Morales sobre supostas ligações de autoridades com o narcotráfico.

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