Casa Santo André melhora o sorriso de moradores de rua de Brasília

O morador de rua Inaldo Soares, 48 anos, não se lembra há quanto tempo perdeu o sorriso. Há 10 anos, vaga pelas ruas de Brasília. Depois da morte da mãe, foi abandonado pela mulher e pelos filhos. Ele relata que estava sem motivos para sorrir, tanto pela desilusão com a vida quanto pela perda de quase todos os dentes. “Já me chamaram de banguela, perdi oportunidade de emprego por não ter meus dentes. Sofri muito, lutei contra mim e contra todos”, conta. Agora, após passar por várias casas de apoio, voltou a sorrir na Casa Santo André (CSA).

Em 2015, a CSA recebeu as primeiras doações de materiais e equipamentos odontológicos e, neste ano, conseguiu a licença para atender os pacientes. Hoje, a casa conta com três dentistas voluntários, entre eles, a cirurgiã-dentista e professora universitária Silvia de Castro, 45 anos. Além disso, todas as terças-feiras, cinco alunos atendem, sob a supervisão da docente, os moradores de rua.

Tiago Feitosa, 24 anos, é um dos estudantes que atua como voluntário. Para ele, sair da zona de conforto e se inserir na realidade do paciente é um exercício interessante e gratificante. “É importante trabalhar esse lado humano. Eu ouvi muitas histórias aqui e vejo o quanto essas pessoas precisam do nosso trabalho
Os principais problemas odontológicos dos moradores de rua são cáries e gengivite — inflamação na gengiva. Na maioria das vezes, é preciso de próteses dentárias para resolver os problemas. “O maior desejo deles é ter o sorriso de volta. Essa é uma das nossas maiores dificuldades, porque precisamos fazer as próteses dentárias, o que envolve muitos fatores, como exames e materiais específicos”, relata a dentista Silvia de Castro.
https://youtu.be/pMLbfLuhykQ
Há seis meses morando no abrigo, Ozair Pereira, 46 anos, se sente grato pelo trabalho dos voluntários. “Eu sinto o amor de Deus aqui. Não tenho mais vontade de me envolver com drogas, sou bem acolhido”, diz, emocionado. Ozair, assim como Inaldo Soares, passa por tratamento odontológico e, em breve, receberá as próteses. Quando isso ocorrer, a esperança dos dois é a mesma: arrumar um emprego.
Fabiana Moraes, diretora da Casa Santo André, relata que a clínica odontológica vai atender os 220 moradores de rua acolhidos nas cinco unidades, além de amparar todos que pedirem ajuda. “Precisamos de mais dentistas voluntários, assim como materiais e equipamentos de raio-X. Percorremos um longo caminho, mas é imprevisível calcular o número de pessoas que vamos atender, já que praticamente todas aquelas que moram na rua têm problemas odontológicos. Por isso, precisamos disponibilizar atendimento todos os dias da semana, nos dois turnos”, reforça.